Catequese – Instituto Tronos https://institutotronos.com.br Centro de formação do Apostolado São Rafael e Santos Anjos Tue, 01 Apr 2025 18:32:32 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://institutotronos.com.br/wp-content/uploads/2025/03/site-icon-02-150x150.webp Catequese – Instituto Tronos https://institutotronos.com.br 32 32 A participação dos Anjos na História da salvação https://institutotronos.com.br/2025/04/03/os-anjos-na-historia-da-salvacao/ https://institutotronos.com.br/2025/04/03/os-anjos-na-historia-da-salvacao/#respond Thu, 03 Apr 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=175 A participação dos Anjos na História da salvação]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 6 de agosto de 1986

Nas catequeses recentes, vimos como a Igreja, iluminada pela luz da Sagrada Escritura, professou ao longo dos séculos a verdade sobre a existência dos anjos como seres puramente espirituais, criados por Deus. Ela o fez desde o início com o Símbolo Niceno-Constantinopolitano e o confirmou no Concílio Lateranense IV (1215), cuja formulação é retomada pelo Concílio Vaticano I no contexto da doutrina sobre a criação: Deus “criou do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a terrestre, e depois criou a natureza humana, comum a ambas, constituída de espírito e corpo” (DS 3002). Ou seja: Deus criou desde o princípio ambas as realidades: a espiritual e a corporal, o mundo terreno e o angélico. Tudo isso Ele criou juntamente (“simul”) em ordem à criação do homem, constituído de espírito e matéria e colocado, segundo a narrativa bíblica, no quadro de um mundo já estabelecido segundo suas leis e já medido pelo tempo (“deinde”).

A participação dos Anjos na História da salvação

Junto com a existência, a fé da Igreja reconhece certos traços distintivos da natureza dos anjos. Seu ser puramente espiritual implica, antes de tudo, sua não materialidade e sua imortalidade. Os anjos não têm “corpo” (embora em determinadas circunstâncias se manifestem sob formas visíveis em razão de sua missão a favor dos homens) e, portanto, não estão sujeitos à lei da corruptibilidade que une todo o mundo material. O próprio Jesus, referindo-se à condição angélica, dirá que, na vida futura, os ressuscitados “não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos” (Lc 20, 36).

Enquanto criaturas de natureza espiritual, os anjos são dotados de intelecto e de livre vontade, como o homem, mas em um grau superior a ele, embora sempre finito, devido ao limite inerente a todas as criaturas. Os anjos são, portanto, seres pessoais e, como tais, também são “à imagem e semelhança” de Deus.

A Sagrada Escritura refere-se aos anjos utilizando também apelativos não apenas pessoais (como os nomes próprios de Rafael, Gabriel, Miguel), mas também coletivos (como as qualificações de Serafins, Querubins, Tronos, Potestades, Dominações, Principados), além de fazer uma distinção entre anjos e arcanjos. Tendo em conta a linguagem analógica e representativa do texto sagrado, podemos deduzir que esses seres-pessoas, quase agrupados em sociedade, dividem-se em ordens e graus, correspondentes à medida de sua perfeição e às tarefas que lhes são confiadas.

Os autores antigos e a própria liturgia falam também dos coros angélicos (nove, segundo Dionísio, o Areopagita). A teologia, especialmente a patrística e a medieval, não rejeitou essas representações, buscando, ao contrário, dar-lhes uma explicação doutrinal e mística, sem, no entanto, atribuir-lhes um valor absoluto. São Tomás preferiu aprofundar as pesquisas sobre a condição ontológica, a atividade cognitiva e volitiva e a elevação espiritual dessas criaturas puramente espirituais, tanto por sua dignidade na escala dos seres, quanto porque nelas podia aprofundar melhor as capacidades e atividades próprias do espírito em estado puro, extraindo delas não pouca luz para iluminar os problemas fundamentais que sempre agitam e estimulam o pensamento humano: o conhecimento, o amor, a liberdade, a docilidade a Deus, a conquista de seu reino.

O tema que mencionamos pode parecer “distante” ou “menos vital” para a mentalidade do homem moderno. No entanto, a Igreja, ao propor com franqueza a totalidade da verdade sobre Deus Criador também dos anjos, acredita prestar um grande serviço ao homem. O homem nutre a convicção de que, em Cristo, Homem-Deus, é ele (e não os anjos) que está no centro da revelação divina. Pois bem, o encontro religioso com o mundo dos seres puramente espirituais torna-se uma revelação preciosa de seu ser não apenas corpo, mas também espírito, e de sua pertença a um projeto de salvação verdadeiramente grande e eficaz, dentro de uma comunidade de seres pessoais que, pelo homem e com o homem, servem ao desígnio providencial de Deus.

Notemos que a Sagrada Escritura e a Tradição chamam propriamente de anjos aqueles espíritos puros que, na prova fundamental de liberdade, escolheram Deus, sua glória e seu reino. Eles estão unidos a Deus mediante o amor consumado que brota da visão beatífica, face a face, da Santíssima Trindade. O próprio Jesus diz: “Os anjos no céu veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10). Esse “ver continuamente a face do Pai” é a mais alta manifestação da adoração de Deus. Pode-se dizer que ela constitui aquela “liturgia celeste”, realizada em nome de todo o universo, à qual se associa incessantemente a liturgia terrestre da Igreja, especialmente em seus momentos culminantes. Basta lembrar aqui o ato pelo qual a Igreja, todos os dias e a cada hora, em todo o mundo, antes de iniciar a oração eucarística no coração da Santa Missa, invoca “os anjos e os arcanjos” para cantar a glória de Deus três vezes Santo, unindo-se assim aos primeiros adoradores de Deus, no culto e no amoroso conhecimento do mistério inefável de sua santidade.

Sempre segundo a revelação, os anjos, que participam da vida da Trindade na luz da glória, são também chamados a ter parte na história da salvação dos homens, nos momentos estabelecidos pelo desígnio da divina Providência. “Não são todos eles espíritos ao serviço de Deus, enviados para assistir os que devem herdar a salvação?”, pergunta o autor da Carta aos Hebreus (Hb 1, 14). E isso a Igreja crê e ensina, com base na Sagrada Escritura, da qual aprendemos que a tarefa dos anjos bons é a proteção dos homens e a solicitude por sua salvação.

Encontramos essas expressões em diversas passagens da Sagrada Escritura, como, por exemplo, no Salmo 90, já citado várias vezes: “Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra” (Sl 90, 11-12). O próprio Jesus, falando das crianças e advertindo para não lhes causar escândalo, refere-se aos “seus anjos” (Mt 18, 10); atribui ainda aos anjos a função de testemunhas no supremo juízo divino sobre a sorte daqueles que reconheceram ou renegaram Cristo: “Quem me reconhecer diante dos homens, também o Filho do Homem o reconhecerá diante dos anjos de Deus; mas quem me renegar diante dos homens será renegado diante dos anjos de Deus” (Lc 12, 8-9). Essas palavras são significativas, pois, se os anjos tomam parte no juízo de Deus, estão interessados na vida do homem. Interesse e participação que parecem receber uma acentuação no discurso escatológico, no qual Jesus faz intervir os anjos na parusia, ou seja, na vinda definitiva de Cristo no fim da história (cf. Mt 24, 31; 25, 31. 41).

Entre os livros do Novo Testamento, são especialmente os Atos dos Apóstolos que nos fazem conhecer alguns fatos que atestam a solicitude dos anjos pelo homem e por sua salvação. Assim, quando o anjo de Deus liberta os apóstolos da prisão (cf. At 5, 18-20) e, antes de tudo, Pedro, que estava ameaçado de morte por Herodes (cf. At 12, 5-10). Ou quando guia a atividade de Pedro em relação ao centurião Cornélio, o primeiro pagão convertido (cf. At 10, 3-8; 11, 12-16), e, de modo análogo, a atividade do diácono Filipe ao longo do caminho de Jerusalém a Gaza (cf. At 8, 26-29).

A partir desses poucos fatos citados a título de exemplo, compreende-se como na consciência da Igreja pôde formar-se a convicção sobre o ministério confiado aos anjos em favor dos homens. Por isso, a Igreja confessa sua fé nos anjos da guarda, venerando-os na liturgia com uma festa própria e recomendando o recurso à sua proteção com uma oração frequente, como na invocação do “Anjo de Deus”. Essa oração parece fazer eco às belas palavras de São Basílio: “Todo fiel tem ao seu lado um anjo como tutor e pastor, para conduzi-lo à vida” (Adversus Eunomium, III, 1; veja-se também São Tomás, Suma Teológica, I, q. 11, a. 3).

É, por fim, oportuno notar que a Igreja honra com culto litúrgico três figuras de anjos que, na Sagrada Escritura, são chamados pelo nome. O primeiro é Miguel arcanjo (cf. Dn 10, 13. 20; Ap 12, 7; Jd 9). Seu nome expressa sinteticamente a atitude essencial dos espíritos bons. “Mica-El” significa, de fato: “Quem como Deus?”. Nesse nome, encontra-se, portanto, expressa a escolha salvífica graças à qual os anjos “veem a face do Pai” que está nos céus. O segundo é Gabriel: figura ligada sobretudo ao mistério da encarnação do Filho de Deus (cf. Lc 1, 19-26). Seu nome significa: “minha força é Deus” ou “força de Deus”, como que a dizer que, no ápice da criação, a encarnação é o sinal supremo do Pai onipotente. Por fim, o terceiro arcanjo chama-se Rafael. “Rafa-El” significa: “Deus cura”. Ele nos é dado a conhecer pela história de Tobias no Antigo Testamento (cf. Tb 12, 15 ss), tão significativa quanto ao encargo confiado aos anjos dos pequenos filhos de Deus, sempre necessitados de guarda, cuidado e proteção.

Refletindo bem, vê-se que cada uma dessas três figuras – Mica-El, Gabri-El, Rafa-El – reflete de modo particular a verdade contida na pergunta levantada pelo autor da Carta aos Hebreus: “Não são todos eles espíritos ao serviço de Deus, enviados para assistir os que devem herdar a salvação?” (Hb 1, 14).

Fonte: Site oficial do Vaticano

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A vitória de Cristo sobre o espírito do mal https://institutotronos.com.br/2025/04/02/a-vitoria-de-cristo-sobre-o-espirito-do-mal/ https://institutotronos.com.br/2025/04/02/a-vitoria-de-cristo-sobre-o-espirito-do-mal/#respond Wed, 02 Apr 2025 18:20:27 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=180 A vitória de Cristo sobre o espírito do mal]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 20 de agosto de 1986

Nossas catequeses sobre Deus, Criador das coisas “invisíveis”, nos levaram a iluminar e revigorar nossa fé no que diz respeito à verdade sobre o maligno ou Satanás, certamente não desejado por Deus, sumo amor e santidade, cuja Providência sábia e forte sabe conduzir nossa existência à vitória sobre o príncipe das trevas.

A vitória de Cristo sobre o espírito do mal

A fé da Igreja, de fato, nos ensina que o poder de Satanás não é infinito. Ele é apenas uma criatura, poderoso por ser um espírito puro, mas ainda assim uma criatura, com os limites da criatura, subordinada à vontade e ao domínio de Deus. Se Satanás age no mundo por seu ódio contra Deus e seu Reino, isso é permitido pela divina Providência, que com poder e bondade (“fortiter et suaviter”) dirige a história do homem e do mundo. Se a ação de Satanás certamente causa muitos danos – de natureza espiritual e, indiretamente, também física – aos indivíduos e à sociedade, ele não é, no entanto, capaz de anular a finalidade definitiva para a qual tendem o homem e toda a criação: o Bem. Ele não pode obstruir a edificação do Reino de Deus, no qual se realizará, no fim, a plena realização da justiça e do amor do Pai para com as criaturas eternamente “predestinadas” no Filho-Verbo, Jesus Cristo. Podemos até dizer com São Paulo que a obra do maligno contribui para o bem (cf. Rm 8, 28) e serve para edificar a glória dos “eleitos” (cf. 2Tm 2, 10).

Assim, toda a história da humanidade pode ser considerada em função da salvação total, na qual está inscrita a vitória de Cristo sobre o “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31; 14, 30; 16, 11).

“Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele prestarás culto” (Lc 4, 8), diz peremptoriamente Cristo a Satanás. Em um momento dramático de seu ministério, quando foi acusado de expulsar demônios por estar aliado a Belzebu, o príncipe dos demônios, Jesus responde com palavras severas e, ao mesmo tempo, consoladoras: “Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Ora, se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, pois, subsistirá o seu reino? … E se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é porque o Reino de Deus já chegou até vós” (Mt 12, 25-26.28). “Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os seus bens estão seguros. Mas, se chegar um mais forte do que ele e o vencer, arrancar-lhe-á a armadura em que confiava e repartirá os seus despojos” (Lc 11, 21-22).

As palavras pronunciadas por Cristo sobre o tentador encontram seu cumprimento histórico na cruz e na ressurreição do Redentor. Como lemos na Carta aos Hebreus, Cristo se fez participante da humanidade até a cruz “para destruir, pela morte, aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo… e libertar assim aqueles que… estavam sujeitos à escravidão” (Hb 2, 14-15). Essa é a grande certeza da fé cristã: “o príncipe deste mundo já está julgado” (Jo 16, 11); “o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo” (1Jo 3, 8), como nos atesta São João. Portanto, o Cristo crucificado e ressuscitado revelou-se como aquele “mais forte” que venceu “o homem forte”, o diabo, e o destronou.

A vitória de Cristo sobre o diabo é compartilhada pela Igreja: Cristo, de fato, deu aos seus discípulos o poder de expulsar demônios (cf. Mt 10, 1 e par.; Mc 16, 17). A Igreja exerce esse poder vitorioso por meio da fé em Cristo e da oração (cf. Mc 9, 29; Mt 17, 19-20), que, em casos específicos, pode assumir a forma do exorcismo.

Nesta fase histórica da vitória de Cristo, inscreve-se o anúncio e o início da vitória final, a parusia, a segunda e definitiva vinda de Cristo no fim da história, para a qual a vida do cristão está projetada. Embora seja verdade que a história terrestre continua a se desenrolar sob a influência daquele “espírito que – como diz São Paulo – agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2, 2), os crentes sabem que são chamados a lutar pelo triunfo definitivo do Bem: “Pois a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nos lugares celestes” (Ef 6, 12).

A luta, à medida que se aproxima do fim, torna-se de certa forma cada vez mais violenta, como destaca especialmente o Apocalipse, o último livro do Novo Testamento (cf. Ap 12, 7-9). Mas é precisamente esse livro que enfatiza a certeza que nos é dada por toda a revelação divina: a de que a luta terminará com a vitória definitiva do Bem. Nessa vitória, prefigurada no mistério pascal de Cristo, cumprir-se-á definitivamente o primeiro anúncio do livro do Gênesis, que, com um termo significativo, é chamado de protoevangelho, quando Deus adverte a serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher” (Gn 3, 15). Nessa fase definitiva, Deus, completando o mistério de sua paterna Providência, “nos libertará do poder das trevas” e nos “transferirá para o Reino do seu Filho amado” (cf. Cl 1, 13-14). Então, o Filho submeterá ao Pai também todo o universo, para que “Deus seja tudo em todos” (1Cor 15, 28).

Aqui se concluem as catequeses sobre Deus Criador das “coisas visíveis e invisíveis”, unidas em nossa abordagem à verdade sobre a divina Providência. Aos olhos do crente, é evidente que o mistério do início do mundo e da história está indissoluvelmente ligado ao mistério do fim, no qual a finalidade de toda a criação atinge seu cumprimento. O Credo, que une de forma tão orgânica tantas verdades, é verdadeiramente a catedral harmoniosa da fé.

De maneira progressiva e orgânica, pudemos admirar, estupefatos, o grande mistério da inteligência e do amor de Deus em sua ação criadora para com o cosmos, o homem e o mundo dos espíritos puros. Dessa ação, consideramos a matriz trinitária, a sábia finalização para a vida do homem, verdadeira “imagem de Deus”, chamado, por sua vez, a recuperar plenamente sua dignidade na contemplação da glória de Deus. Recebemos luz sobre um dos maiores problemas que inquietam o homem e permeiam sua busca pela verdade: o problema do sofrimento e do mal. Na raiz, não está uma decisão errada ou má de Deus, mas sua escolha, e de certa forma seu risco, de nos criar livres para nos ter como amigos. Da liberdade nasceu também o mal. Mas Deus não se rende e, com sua sabedoria transcendente, predestinando-nos a ser seus filhos em Cristo, dirige tudo com força e suavidade, para que o bem não seja vencido pelo mal.

Devemos agora nos deixar guiar pela revelação divina na exploração de outros mistérios de nossa salvação. Enquanto isso, acolhemos uma verdade que deve estar no coração de todo cristão: a de que existem espíritos puros, criaturas de Deus, inicialmente todos bons, e que, por uma escolha de pecado, se separaram irrevogavelmente em anjos da luz e anjos das trevas. E, enquanto a existência dos anjos maus nos exige vigilância para não cedermos às suas seduções, temos a certeza de que o poder vitorioso de Cristo Redentor envolve nossa vida para que sejamos nós mesmos vencedores. Nisso, somos validamente ajudados pelos anjos bons, mensageiros do amor de Deus, aos quais, instruídos pela tradição da Igreja, dirigimos nossa oração: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa, me ilumina. Amém”.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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A queda dos anjos rebeldes https://institutotronos.com.br/2025/04/01/a-queda-dos-anjos-rebeldes/ https://institutotronos.com.br/2025/04/01/a-queda-dos-anjos-rebeldes/#respond Tue, 01 Apr 2025 20:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=178 A queda dos anjos rebeldes]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 13 de agosto de 1986

Continuando o tema das catequeses anteriores dedicadas ao artigo da fé que trata dos anjos, criaturas de Deus, hoje nos aprofundamos para explorar o mistério da liberdade que alguns deles direcionaram contra Deus e seu plano de salvação em relação aos homens.

A queda dos anjos rebeldes

Como testemunha o evangelista Lucas, no momento em que os discípulos retornavam ao Mestre cheios de alegria pelos frutos colhidos em seu estágio missionário, Jesus pronuncia uma frase que faz pensar: “Eu via Satanás cair do céu como um raio” (Lc 10, 18). Com essas palavras, o Senhor afirma que o anúncio do Reino de Deus é sempre uma vitória sobre o diabo, mas, ao mesmo tempo, revela também que a edificação do Reino está continuamente exposta às ciladas do espírito do mal. Interessar-se por isso, como pretendemos fazer com a catequese de hoje, significa preparar-se para a condição de luta que é própria da vida da Igreja neste tempo final da história da salvação (como afirma o Apocalipse) (cf. Ap 12, 7). Por outro lado, isso permite esclarecer a reta fé da Igreja diante de quem a distorce, exagerando a importância do diabo, ou de quem nega ou minimiza seu poder maligno.

As catequeses anteriores sobre os anjos nos prepararam para compreender a verdade que a Sagrada Escritura revelou e que a Tradição da Igreja transmitiu sobre Satanás, ou seja, o anjo caído, o espírito maligno, também chamado de diabo ou demônio.

Essa “queda”, que apresenta o caráter de rejeição a Deus, com o consequente estado de “danação”, consiste na livre escolha daqueles espíritos criados que, de modo radical e irrevogável, rejeitaram Deus e seu Reino, usurpando seus direitos soberanos e tentando subverter a economia da salvação e a própria ordem de toda a criação. Um reflexo desse atitude pode ser encontrado nas palavras do tentador aos primeiros pais: “Sereis como Deus” ou “como deuses” (cf. Gn 3, 5). Assim, o espírito maligno tenta transplantar no homem a atitude de rivalidade, insubordinação e oposição a Deus, que se tornou quase a motivação de toda a sua existência.

No Antigo Testamento, a narrativa da queda do homem, relatada no livro do Gênesis, contém uma referência à atitude de antagonismo que Satanás quer comunicar ao homem para levá-lo à transgressão (cf. Gn 3, 5). Também no livro de Jó (cf. Jó 1, 11; 2, 5.7) lemos que Satanás tenta fomentar a rebelião no homem que sofre. No livro da Sabedoria (cf. Sb 2, 24), Satanás é apresentado como o artífice da morte, que entrou na história do homem junto com o pecado.

A Igreja, no Concílio Lateranense IV (1215), ensina que o diabo (ou Satanás) e os outros demônios “foram criados bons por Deus, mas se tornaram maus por sua própria vontade”. De fato, lemos na Carta de São Judas: “…os anjos que não conservaram sua dignidade, mas abandonaram sua morada, o Senhor os mantém presos em cadeias eternas, nas trevas, para o juízo do grande dia” (Jd 6). Da mesma forma, na Segunda Carta de São Pedro, fala-se de “anjos que pecaram” e que Deus “não poupou, mas… precipitou nos abismos tenebrosos do inferno, reservando-os para o juízo” (2Pd 2, 4). É claro que, se Deus “não perdoa” o pecado dos anjos, é porque eles permanecem em seu pecado, porque estão eternamente “nas cadeias” daquela escolha que fizeram no início, rejeitando Deus, contra a verdade do Bem supremo e definitivo que é o próprio Deus. Nesse sentido, escreve São João que “o diabo é pecador desde o princípio…” (1Jo 3, 8). E “desde o princípio” ele foi homicida e “não permaneceu na verdade, porque não há verdade nele” (Jo 8, 44).

Esses textos nos ajudam a compreender a natureza e a dimensão do pecado de Satanás, que consiste na rejeição da verdade sobre Deus, conhecida à luz da inteligência e da revelação como Bem infinito, Amor e Santidade subsistente. O pecado foi tanto maior quanto maior era a perfeição espiritual e a perspicácia cognitiva do intelecto angélico, quanto maior sua liberdade e sua proximidade com Deus. Ao rejeitar a verdade conhecida sobre Deus com um ato de sua livre vontade, Satanás torna-se o “mentiroso” cósmico e o “pai da mentira” (Jo 8, 44). Por isso, ele vive na negação radical e irreversível de Deus e busca impor à criação, aos outros seres criados à imagem de Deus, e especialmente aos homens, sua trágica “mentira sobre o Bem” que é Deus. No livro do Gênesis, encontramos uma descrição precisa dessa mentira e falsificação da verdade sobre Deus, que Satanás (sob a forma de serpente) tenta transmitir aos primeiros representantes do gênero humano: Deus seria ciumento de suas prerrogativas e, por isso, imporia limitações ao homem (cf. Gn 3, 5). Satanás convida o homem a libertar-se da imposição desse jugo, tornando-se “como Deus”.

Nessa condição de mentira existencial, Satanás torna-se – segundo São João – também “homicida”, ou seja, destruidor da vida sobrenatural que Deus, desde o início, havia enxertado nele e nas criaturas feitas à “imagem de Deus”: os outros espíritos puros e os homens; Satanás quer destruir a vida segundo a verdade, a vida na plenitude do bem, a vida sobrenatural da graça e do amor. O autor do livro da Sabedoria escreve: “…a morte entrou no mundo por inveja do diabo, e a experimentam aqueles que lhe pertencem” (Sb 2, 24). E no Evangelho, Jesus Cristo adverte: “Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na Geena” (Mt 10, 28).

Como efeito do pecado dos primeiros pais, esse anjo caído conquistou, em certa medida, o domínio sobre o homem. Essa é a doutrina constantemente confessada e anunciada pela Igreja, e que o Concílio de Trento confirmou no tratado sobre o pecado original (cf. DS 1511): ela encontra dramática expressão na liturgia do Batismo, quando se pede ao catecúmeno que renuncie ao demônio e às suas seduções.

Desse influxo sobre o homem e sobre as disposições de seu espírito (e de seu corpo), encontramos várias indicações na Sagrada Escritura, na qual Satanás é chamado de “o príncipe deste mundo” (cf. Jo 12, 31; 14, 30; 16, 11), e até mesmo o “deus deste mundo” (2Cor 4, 4). Encontramos muitos outros nomes que descrevem suas relações nefastas com o homem: “Belzebu” ou “Belial”, “espírito imundo”, “tentador”, “maligno” e, finalmente, “anticristo” (1Jo 4, 3). Ele é comparado a um “leão” (1Pd 5, 8), a um “dragão” (no Apocalipse) e a uma “serpente” (Gn 3). Muito frequentemente, para designá-lo, é usado o nome “diabo”, do grego “diaballein” (de onde vem “diabolos”), que significa: causar a destruição, dividir, caluniar, enganar. E, de fato, tudo isso acontece desde o início por obra do espírito maligno, que é apresentado pela Sagrada Escritura como uma pessoa, embora se afirme que ele não está sozinho: “somos muitos”, gritam os demônios a Jesus na região dos gerasenos (Mc 5, 9); “o diabo e seus anjos”, diz Jesus na descrição do futuro juízo (cf. Mt 25, 41).

Segundo a Sagrada Escritura, e especialmente o Novo Testamento, o domínio e o influxo de Satanás e dos outros espíritos malignos abrangem todo o mundo. Pensemos na parábola de Cristo sobre o campo (que é o mundo), sobre a boa semente e sobre a má, que o diabo semeia no meio do trigo, buscando arrancar dos corações o bem que neles foi “semeado” (cf. Mt 13, 38-39). Pensemos nas numerosas exortações à vigilância (cf. Mt 26, 41; 1Pd 5, 8), à oração e ao jejum (cf. Mt 17, 21). Pensemos naquela forte afirmação do Senhor: “Esta espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum outro modo, senão pela oração” (Mc 9, 29). A ação de Satanás consiste, antes de tudo, em tentar os homens ao mal, influenciando sua imaginação e suas faculdades superiores para direcioná-las em sentido contrário à lei de Deus. Satanás põe à prova até mesmo Jesus (cf. Lc 4, 3-13), na tentativa extrema de contrariar as exigências da economia da salvação, tal como Deus a preordenou.

Não é excluído que, em certos casos, o espírito maligno chegue a exercer seu influxo não apenas sobre as coisas materiais, mas também sobre o corpo do homem, de modo que se fala de “possessões diabólicas” (cf. Mc 5, 2-9). Nem sempre é fácil discernir o que há de preternatural nesses casos, nem a Igreja se inclina ou facilita facilmente a tendência de atribuir muitos fatos a intervenções diretas do demônio; mas, em princípio, não se pode negar que, em sua vontade de prejudicar e levar ao mal, Satanás possa chegar a essa extrema manifestação de sua superioridade.

Devemos, finalmente, acrescentar que as impressionantes palavras do apóstolo João: “O mundo inteiro jaz sob o poder do maligno” (1Jo 5, 19), aludem também à presença de Satanás na história da humanidade, uma presença que se torna mais aguda à medida que o homem e a sociedade se afastam de Deus. O influxo do espírito maligno pode “ocultar-se” de modo mais profundo e eficaz: passar despercebido corresponde aos seus “interesses”. A habilidade de Satanás no mundo é induzir os homens a negar sua existência em nome do racionalismo e de qualquer outro sistema de pensamento que busca todas as saídas para não admitir sua ação. Isso, no entanto, não significa a eliminação da livre vontade e da responsabilidade do homem, nem a frustração da ação salvadora de Cristo. Trata-se, antes, de um conflito entre as forças obscuras do mal e as da redenção. São eloquentes, a esse respeito, as palavras que Jesus dirigiu a Pedro no início da paixão: “…Simão, eis que Satanás vos pediu para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22, 31).

Por isso, compreendemos como Jesus, na oração que nos ensinou, o “Pai Nosso”, que é a oração do Reino de Deus, termina quase abruptamente, ao contrário de muitas outras orações de seu tempo, recordando-nos de nossa condição de expostos às ciladas do Maligno. O cristão, apelando ao Pai com o espírito de Jesus e invocando seu Reino, clama com a força da fé: não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal, do Maligno. Fazei, ó Senhor, que não caiamos na infidelidade a que nos seduz aquele que foi infiel desde o princípio.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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Criador das Coisas Invisíveis: Os Anjos https://institutotronos.com.br/2025/03/23/criador-das-coisas-invisiveis/ https://institutotronos.com.br/2025/03/23/criador-das-coisas-invisiveis/#respond Sun, 23 Mar 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=172 Criador das Coisas Invisíveis: Os Anjos]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 30 de julho de 1986

Na catequese anterior, detivemo-nos no artigo do Credo no qual proclamamos e confessamos Deus como criador não apenas de todo o mundo criado, mas também “criador das coisas invisíveis”, e refletimos sobre a existência dos anjos, chamados a se declarar por Deus ou contra Deus com um ato radical e irreversível de adesão ou de recusa à sua vontade de salvação.

Com base na Sagrada Escritura, os anjos, como criaturas puramente espirituais, apresentam-se à reflexão de nossa mente como uma realização especial da “imagem de Deus”, Espírito perfeitíssimo, como o próprio Jesus recorda à mulher samaritana com as palavras: “Deus é espírito” (Jo 4, 24). Os anjos são, desse ponto de vista, as criaturas mais próximas do modelo divino.

O nome que a Sagrada Escritura lhes atribui indica que o que mais importa na revelação é a verdade sobre as tarefas dos anjos em relação aos homens: anjo (angelus) significa, de fato, “mensageiro”. O termo hebraico “malak”, usado no Antigo Testamento, significa mais propriamente “delegado” ou “embaixador”. Os anjos, criaturas espirituais, têm a função de mediação e de ministério nas relações que existem entre Deus e os homens. Sob esse aspecto, a Carta aos Hebreus dirá que a Cristo foi confiado um “nome”, e, portanto, um ministério de mediação, muito superior ao dos anjos (cf. Hb 1, 4).

O Antigo Testamento destaca sobretudo a participação especial dos anjos na celebração da glória que o Criador recebe como tributo de louvor por parte do mundo criado. São especialmente os salmos que se fazem intérpretes dessa voz quando, por exemplo, proclamam: “Louvai o Senhor dos céus, louvai-o nas alturas. Louvai-o, todos os seus anjos…” (Sl 148, 1-2). Da mesma forma, o Salmo 102: “Bendizei o Senhor, todos os seus anjos, poderosos executores das suas ordens, prontos à voz da sua palavra”. Este último versículo do Salmo 102 indica que os anjos participam, de modo próprio, do governo de Deus sobre a criação, como “poderosos executores das suas ordens”, segundo o plano estabelecido pela divina Providência.

Em particular, aos anjos é confiada uma especial proteção e solicitude pelos homens, pelos quais apresentam a Deus suas súplicas e orações, como nos recorda, por exemplo, o Livro de Tobias (cf. especialmente Tb 3, 17 e 12, 12), enquanto o Salmo 90 proclama: “Ele ordenou aos seus anjos… que te levem nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra”. Seguindo o Livro de Daniel, pode-se afirmar que as tarefas dos anjos como embaixadores do Deus vivo estendem-se não apenas aos indivíduos e àqueles que têm tarefas especiais, mas também a nações inteiras (cf. Dn 10, 13-21).

O Novo Testamento destaca as tarefas dos anjos em relação à missão de Cristo como Messias, e, antes de tudo, ao mistério da encarnação do Filho de Deus, como constatamos no relato da anunciação do nascimento de João Batista, de Cristo mesmo, nas explicações e disposições dadas a Maria e José, nas indicações dadas aos pastores na noite do nascimento do Senhor, na proteção do recém-nascido diante do perigo da perseguição de Herodes (cf. Lc 1, 11. 26. 30 ss; 2, 9 ss; Mt 1, 20-1; 2, 13).

Mais adiante, os Evangelhos falam da presença dos anjos durante o jejum de 40 dias de Jesus no deserto (cf. Mt 4, 11) e durante a oração no Getsêmani (Lc 22, 43). Após a ressurreição de Cristo, será ainda um anjo, aparecendo sob a forma de um jovem, que dirá às mulheres que foram ao túmulo e ficaram surpresas ao encontrá-lo vazio: “Não tenhais medo. Vós buscais Jesus de Nazaré, o crucificado. Ele ressuscitou, não está aqui… Ide, dizei aos seus discípulos…” (Mc 16, 5-7).

Dois anjos são vistos também por Maria Madalena, que é privilegiada com uma aparição pessoal de Jesus (Jo 20, 12-17). Os anjos “aparecem” aos apóstolos após a ascensão de Cristo, para lhes dizer: “Homens da Galileia, por que ficais aí, olhando para o céu? Esse Jesus, que foi elevado ao céu, virá do mesmo modo como o vistes partir” (At 1, 10-11).

São os anjos da vida, da paixão e da glória de Cristo. Os anjos daquele que, como escreve São Pedro, “está à direita de Deus, tendo subido ao céu e recebido a soberania sobre os anjos, os principados e as potestades” (1 Pd 3, 22).

Se passamos à nova vinda de Cristo, ou seja, à “parusia”, encontramos que todos os sinóticos anotam que “o Filho do homem… virá na glória de seu Pai com os santos anjos”. Pode-se, portanto, dizer que os anjos, como espíritos puros, não apenas participam, do modo que lhes é próprio, da santidade do próprio Deus, mas, nos momentos-chave, cercam Cristo e o acompanham no cumprimento de sua missão salvífica em relação aos homens.

Da mesma forma, toda a Tradição e o magistério ordinário da Igreja atribuíram, ao longo dos séculos, aos anjos esse caráter particular e essa função de ministério messiânico.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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Criador dos Anjos, seres livres https://institutotronos.com.br/2025/03/22/criador-dos-anjos-seres-livres/ https://institutotronos.com.br/2025/03/22/criador-dos-anjos-seres-livres/#respond Sat, 22 Mar 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=169 Criador dos Anjos, seres livres]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 23 de julho de 1986

Continuamos hoje nossa catequese sobre os anjos, cuja existência, querida por um ato do amor eterno de Deus, professamos com as palavras do Símbolo Niceno-Constantinopolitano: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”.

Na perfeição de sua natureza espiritual, os anjos são chamados desde o início, em virtude de sua inteligência, a conhecer a verdade e a amar o bem que conhecem na verdade de maneira muito mais plena e perfeita do que é possível ao homem. Esse amor é o ato de uma vontade livre, de modo que, também para os anjos, a liberdade significa a possibilidade de fazer uma escolha a favor ou contra o Bem que eles conhecem, ou seja, o próprio Deus.

É preciso repetir aqui o que já recordamos anteriormente a respeito do homem: ao criar seres livres, Deus quis que no mundo se realizasse aquele amor verdadeiro que só é possível com base na liberdade. Ele quis, portanto, que a criatura, constituída à imagem e semelhança de seu Criador, pudesse, da maneira mais plena possível, tornar-se semelhante a Ele, Deus, que “é amor” (1 Jo 4, 16).

Ao criar os espíritos puros como seres livres, Deus, em sua Providência, não podia deixar de prever também a possibilidade do pecado dos anjos. Mas, justamente porque a Providência é sabedoria eterna que ama, Deus soube tirar da história desse pecado, incomparavelmente mais radical por ser o pecado de um espírito puro, o bem definitivo de todo o cosmos criado.

De fato, como diz claramente a revelação, o mundo dos espíritos puros aparece dividido entre bons e maus. Ora, essa divisão não ocorreu por criação de Deus, mas com base na liberdade própria da natureza espiritual de cada um deles. Ela ocorreu por meio da escolha que, para os seres puramente espirituais, possui um caráter incomparavelmente mais radical do que a do homem e é irreversível, dada a profundidade de intuição e penetração do bem de que sua inteligência é dotada.

A esse respeito, deve-se dizer também que os espíritos puros foram submetidos a uma prova de caráter moral. Foi uma escolha decisiva que dizia respeito, antes de tudo, ao próprio Deus, um Deus conhecido de maneira mais essencial e direta do que é possível ao homem, um Deus que a esses seres espirituais havia concedido, antes que ao homem, o dom de participar de sua natureza divina.

No caso dos espíritos puros, a escolha decisiva dizia respeito, antes de tudo, ao próprio Deus, o primeiro e supremo Bem, aceito ou rejeitado de maneira mais essencial e direta do que pode ocorrer no âmbito da livre vontade do homem. Os espíritos puros têm um conhecimento de Deus incomparavelmente mais perfeito do que o do homem, porque, com a potência de seu intelecto, não condicionado nem limitado pela mediação do conhecimento sensível, eles veem até o fundo a grandeza do Ser infinito, da primeira Verdade, do sumo Bem.

A essa sublime capacidade de conhecimento dos espíritos puros, Deus ofereceu o mistério de sua divindade, tornando-os assim participantes, mediante a graça, de sua infinita glória. Justamente por serem seres de natureza espiritual, havia em seu intelecto a capacidade, o desejo dessa elevação sobrenatural à qual Deus os havia chamado, para fazer deles, bem antes do homem, “participantes da natureza divina” (cf. 2 Pd 1, 4), partícipes da vida íntima d’Aquele que é Pai, Filho e Espírito Santo, d’Aquele que, na comunhão das três Pessoas divinas, “é Amor” (1 Jo 4, 16). Deus havia admitido todos os espíritos puros, antes e mais do que o homem, à eterna comunhão do amor.

A escolha feita com base na verdade sobre Deus, conhecida de forma superior em razão da lucidez de suas inteligências, dividiu também o mundo dos espíritos puros entre bons e maus. Os bons escolheram Deus como o Bem supremo e definitivo, conhecido à luz do intelecto iluminado pela revelação. Ter escolhido Deus significa que eles se voltaram para Ele com toda a força interior de sua liberdade, força que é amor. Deus tornou-se o fim total e definitivo de sua existência espiritual.

Os outros, porém, deram as costas a Deus, contra a verdade do conhecimento que indicava n’Ele o bem total e definitivo. Eles escolheram contra a revelação do mistério de Deus, contra sua graça que os tornava participantes da Trindade e da eterna amizade com Deus na comunhão com Ele por meio do amor.

Com base em sua liberdade criada, eles fizeram uma escolha radical e irreversível, assim como a dos anjos bons, mas diametralmente oposta: em vez de uma aceitação de Deus plena de amor, opuseram a Ele uma recusa inspirada por um falso senso de autossuficiência, de aversão e até de ódio, que se transformou em rebelião.

Como compreender uma tal oposição e rebelião a Deus em seres dotados de uma inteligência tão viva e enriquecidos de tanta luz? Qual pode ser o motivo de uma escolha tão radical e irreversível contra Deus? De um ódio tão profundo que parece ser unicamente fruto de loucura? Os Padres da Igreja e os teólogos não hesitam em falar de um “cegamento” produzido pela supervalorização da perfeição do próprio ser, levada ao ponto de ocultar a supremacia de Deus, que exigia, ao contrário, um ato de dócil e obediente submissão.

Tudo isso parece expresso de maneira concisa nas palavras: “Não te servirei!” (Jr 2, 20), que manifestam a recusa radical e irreversível de tomar parte na edificação do reino de Deus no mundo criado. “Satanás”, o espírito rebelde, quer o seu próprio reino, não o de Deus, e se ergue como o primeiro “adversário” do Criador, opositor da Providência, antagonista da sabedoria amorosa de Deus. Da rebelião e do pecado de Satanás, assim como do pecado do homem, devemos concluir, acolhendo a sábia experiência da Escritura, que afirma: “O orgulho é causa de ruína” (Tb 4, 13).

Fonte: Site oficial do Vaticano

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Criador das coisas visíveis e invisíveis https://institutotronos.com.br/2025/03/21/criador-das-coisas-visiveis-e-invisiveis/ https://institutotronos.com.br/2025/03/21/criador-das-coisas-visiveis-e-invisiveis/#respond Fri, 21 Mar 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=166 Criador das coisas visíveis e invisíveis]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 9 de julho de 1986

As nossas catequeses sobre Deus, Criador do mundo, não poderiam ser concluídas sem dedicar a devida atenção a um precioso conteúdo da revelação divina: a criação dos seres puramente espirituais, que a Sagrada Escritura chama “anjos”. Tal criação aparece claramente nos símbolos da fé, especialmente no Símbolo Niceno-Constantinopolitano: Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas (isto é, entes ou seres) “visíveis e invisíveis”.

Sabemos que o homem goza, dentro da criação, de uma posição única: graças ao seu corpo pertence ao mundo visível, enquanto, através da alma espiritual, que vivifica o corpo, está quase no limite entre a criação visível e a invisível. A esta última, segundo o Credo que a Igreja professa à luz da Revelação, pertencem outros seres, puramente espirituais, portanto não próprios do mundo visível, embora nele estejam presentes e atuantes. Eles constituem um mundo específico.

Hoje, como no passado, estes seres espirituais são discutidos com maior ou menor sabedoria. É preciso reconhecer que, às vezes, a confusão é grande, com o consequente risco de fazer passar como fé da Igreja a respeito dos anjos coisas que não pertencem à fé ou, vice-versa, de deixar de lado algum aspecto importante da verdade revelada.

A existência de seres espirituais que a Sagrada Escritura habitualmente chama “anjos” já era negada no tempo de Cristo pelos saduceus (cf. At 23, 8). Negam-na também os materialistas e racionalistas de todos os tempos. E, no entanto, como observa com perspicácia um teólogo moderno, “se quiséssemos desembaraçar-nos dos anjos, a própria Sagrada Escritura teria que ser radicalmente revista e com ela toda a história da salvação” (A. Winklhofer, Die Welt der Engel, Ettal 1961, p. 144, nota 2; em Mysterium salutis , II, 2, p. 726). Toda a Tradição é unânime sobre esta questão.

O Credo da Igreja, na sua essência, é um eco do que Paulo escreve aos Colossenses: “Porque nele (Cristo) foram criadas todas as coisas do céu e da terra, as visíveis e as invisíveis, tronos, dominações, principados, potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele” (Col. 1, 16). Isto é, Cristo que, como Filho-Verbo eterno e consubstancial ao Pai, é “primogênito de toda a criatura” (Col 1, 15), está no centro do universo como razão e fundamento de toda a criação, como já vimos nas catequeses precedentes e como ainda veremos quando falarmos mais diretamente sobre Ele.

A referência ao «primado» de Cristo ajuda-nos a compreender que a verdade sobre a existência e a ação dos anjos (bons e maus) não constitui o conteúdo central da Palavra de Deus. No Apocalipse, Deus fala em primeiro lugar “aos homens… e passa tempo com eles para os convidar e os receber em comunhão com Ele”, como lemos na Constituição Dei Verbum do Concílio Vaticano II (Dei Verbum 2). Deste modo, «a verdade profunda, tanto de Deus como da salvação dos homens», é o conteúdo central da Revelação que «brilha» mais plenamente na pessoa de Cristo (cf. Dei Verbum 2 ).

A verdade sobre os anjos é, em certo sentido, inseparável da Revelação central que é a existência, a majestade e a glória do Criador que resplandece em toda a criação (“visível” e “invisível”) e na ação salvífica de Deus na história do homem. Os anjos não são criaturas de primeiro plano na realidade da Revelação, mas pertencem-lhe plenamente, tanto que em alguns momentos os vemos cumprir missões fundamentais em nome do próprio Deus.

Tudo isto que pertence à criação entra, segundo a Revelação, no mistério da Divina Providência. O Vaticano I, que já citamos muitas vezes, afirma-o de forma exemplarmente concisa: «Tudo o que é criado, Deus preserva e dirige com a sua Providência “que estende de um extremo ao outro com vigor e governando todas as coisas com bondade”. (cf. Sb 8, 1). “Todas as coisas estão a nu e a descoberto aos seus olhos” (cf. Hb 4, 13), “mesmo o que se realizou pela livre iniciativa das criaturas” (DS 3.003).

A Providência abrange, portanto, também o mundo dos espíritos puros, que ainda mais plenamente que os homens são seres racionais e livres. Na Sagrada Escritura encontramos indicações preciosas que lhes dizem respeito. Há a revelação de um drama misterioso, mas real, que afetou estas criaturas angélicas, sem que nada escapasse à eterna Sabedoria, que, com força (fortiter) e, ao mesmo tempo, com bondade (suaviter), leva tudo à realização no reino do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Reconheçamos antes de tudo que a Providência, como amorosa Sabedoria de Deus, se manifestou precisamente ao criar seres puramente espirituais, através dos quais se expressa melhor a sua semelhança com Deus, que supera em muito tudo o que foi criado no mundo visível, juntamente com o homem, também ele imagem indelével de Deus. Deus, que é Espírito absolutamente perfeito, reflete-se sobretudo nos seres espirituais que, por natureza, isto é, pela sua espiritualidade, Lhe estão muito mais próximos do que as criaturas materiais e constituem quase o “ambiente” mais próximo do Criador.

A Sagrada Escritura oferece um testemunho bastante explícito desta máxima proximidade a Deus, dos anjos, dos quais fala, com linguagem figurada, como do “trono” de Deus, dos seus “exércitos”, do seu “céu”. Ela inspirou a poesia e a arte dos séculos cristãos que nos apresentam os anjos como a “corte de Deus”.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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