Instituto Tronos https://institutotronos.com.br Centro de formação do Apostolado São Rafael e Santos Anjos Tue, 01 Apr 2025 18:56:54 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8 https://institutotronos.com.br/wp-content/uploads/2025/03/site-icon-02-150x150.webp Instituto Tronos https://institutotronos.com.br 32 32 Como Ler e Interpretar as Escrituras? – Sentido literal e espiritual da Bíblia https://institutotronos.com.br/2025/04/05/como-ler-e-interpretar-as-escrituras/ https://institutotronos.com.br/2025/04/05/como-ler-e-interpretar-as-escrituras/#respond Sat, 05 Apr 2025 08:18:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=230 Como Ler e Interpretar as Escrituras? – Sentido literal e espiritual da Bíblia]]> Como Ler e Interpretar as Escrituras? A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus revelada aos homens e registrada sob inspiração divina. No entanto, sua correta interpretação exige um entendimento adequado dos diferentes sentidos presentes nos textos sagrados. A Igreja Católica ensina que a Bíblia deve ser lida à luz da Tradição e do Magistério, garantindo uma interpretação fiel à revelação divina. A leitura da Escritura, portanto, não pode ser isolada ou sujeita a interpretações subjetivas, mas deve estar enraizada na fé da Igreja e em uma busca sincera pela verdade divina.

O Sentido Literal da Escritura

O sentido literal da Escritura refere-se ao significado que as palavras expressam segundo as regras da linguagem e do contexto histórico e cultural no qual foram escritas. Esse sentido é fundamental porque serve como base para todos os outros níveis de interpretação, garantindo que a mensagem divina seja compreendida de forma objetiva antes de ser aprofundada espiritualmente.

  1. Importância do Contexto Histórico e Cultural – Cada livro da Bíblia foi escrito em uma época e cultura específicas. Compreender os costumes, o estilo literário e a intenção do autor sagrado ajuda a evitar leituras equivocadas. Por exemplo, muitos textos do Antigo Testamento contêm expressões e simbologias que eram comuns para o povo hebreu, mas podem parecer enigmáticas para leitores modernos. A arqueologia bíblica e o estudo das línguas originais, como hebraico, aramaico e grego, são fundamentais para desvendar nuances importantes.
  2. Gêneros Literários na Bíblia – A Sagrada Escritura contém diferentes gêneros, como narrativas históricas, profecias, salmos, parábolas e epístolas. Identificar o gênero literário de um texto bíblico contribui para sua interpretação correta. Por exemplo, a leitura de um salmo deve considerar sua natureza poética, enquanto um texto profético pode conter imagens simbólicas que não devem ser interpretadas de maneira puramente literal. A diferenciação entre esses gêneros evita confusões e permite uma leitura mais clara e fiel ao propósito original.
  3. Exegese e Hermenêutica – A exegese é a análise rigorosa do texto sagrado, enquanto a hermenêutica busca interpretar e aplicar sua mensagem. Ambas são usadas pela Igreja para garantir a fidelidade à revelação. A exegese católica respeita os princípios da fé e busca compreender o significado pretendido pelo autor inspirado. A hermenêutica, por sua vez, permite que esse significado seja aplicado à vida dos fiéis, conectando o ensinamento bíblico às realidades contemporâneas.

O Sentido Espiritual da Escritura

Além do sentido literal, a Igreja reconhece três subdivisões do sentido espiritual da Escritura, conforme ensinado pela Tradição. Esses sentidos permitem uma leitura mais profunda e conectam os textos bíblicos entre si, revelando aspectos ocultos da economia da salvação.

  1. Sentido Alegórico – Algumas passagens do Antigo Testamento são sombras ou prefigurações de realidades do Novo Testamento. Exemplo: a travessia do Mar Vermelho pelos israelitas prefigura o Batismo (cf. 1Cor 10,2). Isso significa que eventos do Antigo Testamento muitas vezes possuem um significado mais profundo, revelado plenamente na Nova Aliança. A interpretação alegórica mostra como Cristo e sua obra redentora estavam prefigurados na história do povo de Israel.
  2. Sentido Moral – A Escritura ensina princípios éticos para a vida cristã. Por exemplo, a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37) orienta sobre a caridade e o amor ao próximo. Esse sentido convida o leitor a aplicar os ensinamentos bíblicos em sua vida diária, buscando a conversão do coração e a prática das virtudes cristãs. A moralidade bíblica não é apenas uma lista de regras, mas um caminho para a santidade e a imitação de Cristo.
  3. Sentido Anagógico – Este sentido aponta para a realidade celeste e a vida eterna. A Jerusalém terrena, por exemplo, é uma imagem da Jerusalém celeste. Esse tipo de interpretação conduz a alma para a esperança escatológica, recordando que a vida presente é uma peregrinação rumo ao Reino de Deus. Ele ajuda a manter a fé viva diante das dificuldades da vida, lembrando que as promessas divinas se cumprem na eternidade.

A Interpretação da Bíblia na Tradição da Igreja

A correta interpretação da Escritura não é um esforço individual isolado, mas ocorre dentro da comunidade de fé. A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, preserva a reta compreensão da Palavra de Deus através de várias fontes seguras de ensino.

  1. Do Magistério – O Papa e os bispos em comunhão com ele são os intérpretes autênticos da Escritura. Isso garante que a Bíblia não seja deturpada por interpretações errôneas e contraditórias. O Magistério age como um guardião da verdade revelada, evitando desvios doutrinários e preservando a unidade da fé.
  2. Dos Santos Padres – Escritos dos primeiros séculos ajudam a compreender o ensinamento apostólico. Os Padres da Igreja, como Santo Agostinho, São João Crisóstomo e Santo Ambrósio, forneceram interpretações ricas e profundas das Escrituras, que continuam a iluminar a fé dos católicos.
  3. Da Liturgia e Catequese – A proclamação da Palavra na Missa e os ensinamentos catequéticos favorecem a vivência bíblica autêntica. A leitura da Escritura na Liturgia não é um simples ato informativo, mas um momento de encontro com Deus, no qual a Palavra é atualizada e aplicada à vida do fiel.

Como Ler e Interpretar as Escrituras?

  1. Com Fé e Oração – A leitura deve ser acompanhada de oração para que Deus ilumine o entendimento. Antes de abrir a Bíblia, é recomendável pedir a assistência do Espírito Santo para compreender sua mensagem.
  2. Dentro do Contexto da Igreja – Usar a Tradição e os ensinamentos do Magistério como guias. A Bíblia não pode ser lida isoladamente, pois sua interpretação autêntica ocorre no seio da comunidade eclesial.
  3. Com Regularidade – A prática diária fortalece a espiritualidade e o crescimento na fé. Pequenos momentos diários de leitura bíblica podem transformar a vida espiritual de um católico.
  4. Por Meio da Lectio Divina – Método tradicional que conduz à meditação e contemplação da Palavra. Esse método, composto por leitura, meditação, oração e contemplação, permite que o fiel entre em comunhão profunda com Deus.

Conclusão

A interpretação da Sagrada Escritura exige discernimento, fé e um vínculo com a Tradição e o Magistério da Igreja. O católico, ao ler a Bíblia, deve buscar compreender tanto o sentido literal quanto o espiritual, permitindo que a Palavra de Deus ilumine sua vida e o conduza à santidade. A Bíblia não é um livro comum, mas um instrumento de salvação, um meio pelo qual Deus fala diretamente ao coração dos fiéis e os orienta no caminho da verdade eterna.

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O Papel da Sagrada Escritura na Vida do Católico – Tradição e Magistério https://institutotronos.com.br/2025/04/04/o-papel-da-sagrada-escritura-na-vida-do-catolico/ https://institutotronos.com.br/2025/04/04/o-papel-da-sagrada-escritura-na-vida-do-catolico/#respond Fri, 04 Apr 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=228 O Papel da Sagrada Escritura na Vida do Católico – Tradição e Magistério]]> A Sagrada Escritura ocupa um lugar central na vida do católico, sendo a Palavra de Deus escrita sob inspiração divina. No entanto, a compreensão e a interpretação das Escrituras na Igreja Católica não se dá de maneira isolada, mas em harmonia com a Tradição Apostólica e sob a orientação do Magistério da Igreja. Essa relação entre Escritura, Tradição e Magistério é essencial para a vivência autêntica da fé católica.

A Sagrada Escritura como Palavra de Deus

A Igreja ensina que a Sagrada Escritura é divinamente inspirada, conforme afirmado pelo Concílio Vaticano II na constituição dogmática Dei Verbum. Deus se revela por meio das Escrituras, comunicando Sua vontade e plano de salvação. No entanto, a interpretação das Escrituras requer a orientação da Igreja, pois não foi confiada a interpretação privada, mas sim à comunidade eclesial sob a autoridade do Magistério.

A Sagrada Escritura contém diferentes gêneros literários e contextos históricos que precisam ser considerados em sua interpretação. A Igreja, através dos séculos, desenvolveu métodos exegéticos para compreender os textos sagrados de forma fiel à intenção original dos autores inspirados. Assim, evita-se interpretações subjetivas e errôneas.

Além disso, a Escritura não pode ser isolada do restante da fé cristã. A Palavra de Deus deve ser lida à luz da Tradição e do ensinamento dos Santos Padres. O estudo bíblico guiado pelo Magistério permite que o fiel compreenda melhor a mensagem divina e a aplique em sua vida cotidiana.

Por fim, a leitura da Bíblia deve ser acompanhada da oração e da meditação. A Igreja recomenda que todo católico se aproxime da Palavra de Deus com reverência e humildade, buscando nela a voz do próprio Senhor. O Espírito Santo, que inspirou os autores sagrados, continua a iluminar os leitores sinceros que desejam crescer na fé.

A Tradição Apostólica e sua Relação com a Escritura

A Tradição Apostólica compreende os ensinamentos transmitidos oralmente pelos Apóstolos e preservados ao longo dos séculos na vida da Igreja. O Catecismo da Igreja Católica (CIC 80-82) afirma que a Escritura e a Tradição estão intrinsecamente ligadas, formando um único Depósito da Fé. Muitas verdades fundamentais da fé, como o cânon bíblico e a compreensão dos sacramentos, são conhecidas e preservadas pela Tradição.

A Tradição não é uma coleção de costumes humanos, mas a transmissão viva da mensagem de Cristo, confiada à Igreja pelo Espírito Santo. Ela se manifesta na liturgia, nos ensinamentos dos Santos Padres e nos documentos dos Concílios e Papas. Dessa forma, a Tradição garante a continuidade e autenticidade da fé cristã ao longo dos séculos.

Outro aspecto fundamental da Tradição é a sua relação com a Sagrada Escritura. Ambas têm a mesma fonte divina e se complementam, pois nem tudo o que Jesus fez e ensinou foi escrito (cf. Jo 21,25). A Tradição ajuda a interpretar corretamente a Escritura e a evitar distorções que possam comprometer a fé autêntica.

Por isso, a Igreja ensina que a Bíblia não pode ser lida e compreendida isoladamente, sem a Tradição. Os Padres da Igreja, como Santo Agostinho e São João Crisóstomo, foram fundamentais na interpretação dos textos sagrados, mostrando como a vivência da fé e o ensinamento apostólico são essenciais para compreender as Escrituras.

O Magistério como Intérprete Autêntico da Palavra de Deus

O Magistério da Igreja, exercido pelo Papa e pelos bispos em comunhão com ele, tem a responsabilidade de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, seja escrita (Escritura) ou transmitida (Tradição). Essa autoridade é garantida pelo próprio Cristo, que confiou aos Apóstolos e seus sucessores a missão de ensinar com fidelidade (Mt 28,19-20). O Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serve, garantindo sua interpretação correta e prevenindo erros doutrinários.

A infalibilidade do Magistério em questões de fé e moral é um dom do Espírito Santo concedido à Igreja. Essa infalibilidade não significa que os Papas e bispos sejam pessoalmente impecáveis, mas que, quando ensinam oficialmente sobre fé e moral, são preservados do erro. Isso assegura que a interpretação da Palavra de Deus esteja sempre em conformidade com a verdade revelada.

Além disso, o Magistério atua constantemente no discernimento e explicação das Escrituras. Os documentos papais, as encíclicas e os pronunciamentos conciliares são meios pelos quais a Igreja esclarece aspectos importantes da fé cristã e orienta os fiéis no entendimento correto da Palavra de Deus.

Um exemplo claro do papel do Magistério foi a definição do cânon bíblico, que ocorreu ao longo dos primeiros séculos do cristianismo. Sem essa orientação, haveria grande confusão sobre quais livros deveriam ser considerados inspirados. Dessa forma, o Magistério assegura a unidade da fé e evita interpretações individuais que possam levar a desvios.

O Uso da Escritura na Vida do Católico

O católico é chamado a conhecer e amar a Sagrada Escritura, mas sempre dentro do contexto da Igreja. Algumas formas concretas incluem:

  • Leitura Orante da Bíblia (Lectio Divina): Um método tradicional de oração com a Escritura, favorecendo um diálogo profundo com Deus.
  • Liturgia: A Sagrada Escritura está presente em todas as celebrações litúrgicas, especialmente na Missa, onde é proclamada e explicada na homilia.
  • Catequese e Evangelização: A Palavra de Deus é a base da transmissão da fé e do ensinamento da doutrina católica.

Além disso, a Bíblia é um instrumento essencial para a vida de oração do cristão. Através dos Salmos, das parábolas de Jesus e das cartas apostólicas, os fiéis encontram direção e conforto espiritual. A leitura diária da Escritura fortalece a fé e ajuda a enfrentar os desafios da vida com esperança cristã.

A participação na Missa também é um momento privilegiado para ouvir e meditar sobre a Palavra de Deus. A liturgia da Palavra, composta pelas leituras bíblicas e a homilia, oferece aos fiéis a oportunidade de aprofundar sua compreensão da Escritura e aplicá-la à sua vida.

Por fim, a Sagrada Escritura é um meio pelo qual Deus continua a falar à Igreja e a cada fiel individualmente. Quando lida com fé e humildade, a Bíblia torna-se um caminho de santificação e comunhão com o Senhor.

Conclusão

A Sagrada Escritura, a Tradição Apostólica e o Magistério formam um tripé essencial para a fé católica. O católico é chamado a viver essa relação harmoniosa, evitando interpretações individualistas e buscando sempre compreender a Palavra de Deus sob a orientação da Igreja. Dessa forma, a Bíblia não é apenas um livro sagrado, mas um guia vivo para a santidade e a comunhão com Deus.

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A participação dos Anjos na História da salvação https://institutotronos.com.br/2025/04/03/os-anjos-na-historia-da-salvacao/ https://institutotronos.com.br/2025/04/03/os-anjos-na-historia-da-salvacao/#comments Thu, 03 Apr 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=175 A participação dos Anjos na História da salvação]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 6 de agosto de 1986

Nas catequeses recentes, vimos como a Igreja, iluminada pela luz da Sagrada Escritura, professou ao longo dos séculos a verdade sobre a existência dos anjos como seres puramente espirituais, criados por Deus. Ela o fez desde o início com o Símbolo Niceno-Constantinopolitano e o confirmou no Concílio Lateranense IV (1215), cuja formulação é retomada pelo Concílio Vaticano I no contexto da doutrina sobre a criação: Deus “criou do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a terrestre, e depois criou a natureza humana, comum a ambas, constituída de espírito e corpo” (DS 3002). Ou seja: Deus criou desde o princípio ambas as realidades: a espiritual e a corporal, o mundo terreno e o angélico. Tudo isso Ele criou juntamente (“simul”) em ordem à criação do homem, constituído de espírito e matéria e colocado, segundo a narrativa bíblica, no quadro de um mundo já estabelecido segundo suas leis e já medido pelo tempo (“deinde”).

A participação dos Anjos na História da salvação

Junto com a existência, a fé da Igreja reconhece certos traços distintivos da natureza dos anjos. Seu ser puramente espiritual implica, antes de tudo, sua não materialidade e sua imortalidade. Os anjos não têm “corpo” (embora em determinadas circunstâncias se manifestem sob formas visíveis em razão de sua missão a favor dos homens) e, portanto, não estão sujeitos à lei da corruptibilidade que une todo o mundo material. O próprio Jesus, referindo-se à condição angélica, dirá que, na vida futura, os ressuscitados “não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos” (Lc 20, 36).

Enquanto criaturas de natureza espiritual, os anjos são dotados de intelecto e de livre vontade, como o homem, mas em um grau superior a ele, embora sempre finito, devido ao limite inerente a todas as criaturas. Os anjos são, portanto, seres pessoais e, como tais, também são “à imagem e semelhança” de Deus.

A Sagrada Escritura refere-se aos anjos utilizando também apelativos não apenas pessoais (como os nomes próprios de Rafael, Gabriel, Miguel), mas também coletivos (como as qualificações de Serafins, Querubins, Tronos, Potestades, Dominações, Principados), além de fazer uma distinção entre anjos e arcanjos. Tendo em conta a linguagem analógica e representativa do texto sagrado, podemos deduzir que esses seres-pessoas, quase agrupados em sociedade, dividem-se em ordens e graus, correspondentes à medida de sua perfeição e às tarefas que lhes são confiadas.

Os autores antigos e a própria liturgia falam também dos coros angélicos (nove, segundo Dionísio, o Areopagita). A teologia, especialmente a patrística e a medieval, não rejeitou essas representações, buscando, ao contrário, dar-lhes uma explicação doutrinal e mística, sem, no entanto, atribuir-lhes um valor absoluto. São Tomás preferiu aprofundar as pesquisas sobre a condição ontológica, a atividade cognitiva e volitiva e a elevação espiritual dessas criaturas puramente espirituais, tanto por sua dignidade na escala dos seres, quanto porque nelas podia aprofundar melhor as capacidades e atividades próprias do espírito em estado puro, extraindo delas não pouca luz para iluminar os problemas fundamentais que sempre agitam e estimulam o pensamento humano: o conhecimento, o amor, a liberdade, a docilidade a Deus, a conquista de seu reino.

O tema que mencionamos pode parecer “distante” ou “menos vital” para a mentalidade do homem moderno. No entanto, a Igreja, ao propor com franqueza a totalidade da verdade sobre Deus Criador também dos anjos, acredita prestar um grande serviço ao homem. O homem nutre a convicção de que, em Cristo, Homem-Deus, é ele (e não os anjos) que está no centro da revelação divina. Pois bem, o encontro religioso com o mundo dos seres puramente espirituais torna-se uma revelação preciosa de seu ser não apenas corpo, mas também espírito, e de sua pertença a um projeto de salvação verdadeiramente grande e eficaz, dentro de uma comunidade de seres pessoais que, pelo homem e com o homem, servem ao desígnio providencial de Deus.

Notemos que a Sagrada Escritura e a Tradição chamam propriamente de anjos aqueles espíritos puros que, na prova fundamental de liberdade, escolheram Deus, sua glória e seu reino. Eles estão unidos a Deus mediante o amor consumado que brota da visão beatífica, face a face, da Santíssima Trindade. O próprio Jesus diz: “Os anjos no céu veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18, 10). Esse “ver continuamente a face do Pai” é a mais alta manifestação da adoração de Deus. Pode-se dizer que ela constitui aquela “liturgia celeste”, realizada em nome de todo o universo, à qual se associa incessantemente a liturgia terrestre da Igreja, especialmente em seus momentos culminantes. Basta lembrar aqui o ato pelo qual a Igreja, todos os dias e a cada hora, em todo o mundo, antes de iniciar a oração eucarística no coração da Santa Missa, invoca “os anjos e os arcanjos” para cantar a glória de Deus três vezes Santo, unindo-se assim aos primeiros adoradores de Deus, no culto e no amoroso conhecimento do mistério inefável de sua santidade.

Sempre segundo a revelação, os anjos, que participam da vida da Trindade na luz da glória, são também chamados a ter parte na história da salvação dos homens, nos momentos estabelecidos pelo desígnio da divina Providência. “Não são todos eles espíritos ao serviço de Deus, enviados para assistir os que devem herdar a salvação?”, pergunta o autor da Carta aos Hebreus (Hb 1, 14). E isso a Igreja crê e ensina, com base na Sagrada Escritura, da qual aprendemos que a tarefa dos anjos bons é a proteção dos homens e a solicitude por sua salvação.

Encontramos essas expressões em diversas passagens da Sagrada Escritura, como, por exemplo, no Salmo 90, já citado várias vezes: “Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra” (Sl 90, 11-12). O próprio Jesus, falando das crianças e advertindo para não lhes causar escândalo, refere-se aos “seus anjos” (Mt 18, 10); atribui ainda aos anjos a função de testemunhas no supremo juízo divino sobre a sorte daqueles que reconheceram ou renegaram Cristo: “Quem me reconhecer diante dos homens, também o Filho do Homem o reconhecerá diante dos anjos de Deus; mas quem me renegar diante dos homens será renegado diante dos anjos de Deus” (Lc 12, 8-9). Essas palavras são significativas, pois, se os anjos tomam parte no juízo de Deus, estão interessados na vida do homem. Interesse e participação que parecem receber uma acentuação no discurso escatológico, no qual Jesus faz intervir os anjos na parusia, ou seja, na vinda definitiva de Cristo no fim da história (cf. Mt 24, 31; 25, 31. 41).

Entre os livros do Novo Testamento, são especialmente os Atos dos Apóstolos que nos fazem conhecer alguns fatos que atestam a solicitude dos anjos pelo homem e por sua salvação. Assim, quando o anjo de Deus liberta os apóstolos da prisão (cf. At 5, 18-20) e, antes de tudo, Pedro, que estava ameaçado de morte por Herodes (cf. At 12, 5-10). Ou quando guia a atividade de Pedro em relação ao centurião Cornélio, o primeiro pagão convertido (cf. At 10, 3-8; 11, 12-16), e, de modo análogo, a atividade do diácono Filipe ao longo do caminho de Jerusalém a Gaza (cf. At 8, 26-29).

A partir desses poucos fatos citados a título de exemplo, compreende-se como na consciência da Igreja pôde formar-se a convicção sobre o ministério confiado aos anjos em favor dos homens. Por isso, a Igreja confessa sua fé nos anjos da guarda, venerando-os na liturgia com uma festa própria e recomendando o recurso à sua proteção com uma oração frequente, como na invocação do “Anjo de Deus”. Essa oração parece fazer eco às belas palavras de São Basílio: “Todo fiel tem ao seu lado um anjo como tutor e pastor, para conduzi-lo à vida” (Adversus Eunomium, III, 1; veja-se também São Tomás, Suma Teológica, I, q. 11, a. 3).

É, por fim, oportuno notar que a Igreja honra com culto litúrgico três figuras de anjos que, na Sagrada Escritura, são chamados pelo nome. O primeiro é Miguel arcanjo (cf. Dn 10, 13. 20; Ap 12, 7; Jd 9). Seu nome expressa sinteticamente a atitude essencial dos espíritos bons. “Mica-El” significa, de fato: “Quem como Deus?”. Nesse nome, encontra-se, portanto, expressa a escolha salvífica graças à qual os anjos “veem a face do Pai” que está nos céus. O segundo é Gabriel: figura ligada sobretudo ao mistério da encarnação do Filho de Deus (cf. Lc 1, 19-26). Seu nome significa: “minha força é Deus” ou “força de Deus”, como que a dizer que, no ápice da criação, a encarnação é o sinal supremo do Pai onipotente. Por fim, o terceiro arcanjo chama-se Rafael. “Rafa-El” significa: “Deus cura”. Ele nos é dado a conhecer pela história de Tobias no Antigo Testamento (cf. Tb 12, 15 ss), tão significativa quanto ao encargo confiado aos anjos dos pequenos filhos de Deus, sempre necessitados de guarda, cuidado e proteção.

Refletindo bem, vê-se que cada uma dessas três figuras – Mica-El, Gabri-El, Rafa-El – reflete de modo particular a verdade contida na pergunta levantada pelo autor da Carta aos Hebreus: “Não são todos eles espíritos ao serviço de Deus, enviados para assistir os que devem herdar a salvação?” (Hb 1, 14).

Fonte: Site oficial do Vaticano

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A vitória de Cristo sobre o espírito do mal https://institutotronos.com.br/2025/04/02/a-vitoria-de-cristo-sobre-o-espirito-do-mal/ https://institutotronos.com.br/2025/04/02/a-vitoria-de-cristo-sobre-o-espirito-do-mal/#respond Wed, 02 Apr 2025 18:20:27 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=180 A vitória de Cristo sobre o espírito do mal]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 20 de agosto de 1986

Nossas catequeses sobre Deus, Criador das coisas “invisíveis”, nos levaram a iluminar e revigorar nossa fé no que diz respeito à verdade sobre o maligno ou Satanás, certamente não desejado por Deus, sumo amor e santidade, cuja Providência sábia e forte sabe conduzir nossa existência à vitória sobre o príncipe das trevas.

A vitória de Cristo sobre o espírito do mal

A fé da Igreja, de fato, nos ensina que o poder de Satanás não é infinito. Ele é apenas uma criatura, poderoso por ser um espírito puro, mas ainda assim uma criatura, com os limites da criatura, subordinada à vontade e ao domínio de Deus. Se Satanás age no mundo por seu ódio contra Deus e seu Reino, isso é permitido pela divina Providência, que com poder e bondade (“fortiter et suaviter”) dirige a história do homem e do mundo. Se a ação de Satanás certamente causa muitos danos – de natureza espiritual e, indiretamente, também física – aos indivíduos e à sociedade, ele não é, no entanto, capaz de anular a finalidade definitiva para a qual tendem o homem e toda a criação: o Bem. Ele não pode obstruir a edificação do Reino de Deus, no qual se realizará, no fim, a plena realização da justiça e do amor do Pai para com as criaturas eternamente “predestinadas” no Filho-Verbo, Jesus Cristo. Podemos até dizer com São Paulo que a obra do maligno contribui para o bem (cf. Rm 8, 28) e serve para edificar a glória dos “eleitos” (cf. 2Tm 2, 10).

Assim, toda a história da humanidade pode ser considerada em função da salvação total, na qual está inscrita a vitória de Cristo sobre o “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31; 14, 30; 16, 11).

“Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele prestarás culto” (Lc 4, 8), diz peremptoriamente Cristo a Satanás. Em um momento dramático de seu ministério, quando foi acusado de expulsar demônios por estar aliado a Belzebu, o príncipe dos demônios, Jesus responde com palavras severas e, ao mesmo tempo, consoladoras: “Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. Ora, se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo. Como, pois, subsistirá o seu reino? … E se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é porque o Reino de Deus já chegou até vós” (Mt 12, 25-26.28). “Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os seus bens estão seguros. Mas, se chegar um mais forte do que ele e o vencer, arrancar-lhe-á a armadura em que confiava e repartirá os seus despojos” (Lc 11, 21-22).

As palavras pronunciadas por Cristo sobre o tentador encontram seu cumprimento histórico na cruz e na ressurreição do Redentor. Como lemos na Carta aos Hebreus, Cristo se fez participante da humanidade até a cruz “para destruir, pela morte, aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo… e libertar assim aqueles que… estavam sujeitos à escravidão” (Hb 2, 14-15). Essa é a grande certeza da fé cristã: “o príncipe deste mundo já está julgado” (Jo 16, 11); “o Filho de Deus se manifestou para destruir as obras do diabo” (1Jo 3, 8), como nos atesta São João. Portanto, o Cristo crucificado e ressuscitado revelou-se como aquele “mais forte” que venceu “o homem forte”, o diabo, e o destronou.

A vitória de Cristo sobre o diabo é compartilhada pela Igreja: Cristo, de fato, deu aos seus discípulos o poder de expulsar demônios (cf. Mt 10, 1 e par.; Mc 16, 17). A Igreja exerce esse poder vitorioso por meio da fé em Cristo e da oração (cf. Mc 9, 29; Mt 17, 19-20), que, em casos específicos, pode assumir a forma do exorcismo.

Nesta fase histórica da vitória de Cristo, inscreve-se o anúncio e o início da vitória final, a parusia, a segunda e definitiva vinda de Cristo no fim da história, para a qual a vida do cristão está projetada. Embora seja verdade que a história terrestre continua a se desenrolar sob a influência daquele “espírito que – como diz São Paulo – agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2, 2), os crentes sabem que são chamados a lutar pelo triunfo definitivo do Bem: “Pois a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nos lugares celestes” (Ef 6, 12).

A luta, à medida que se aproxima do fim, torna-se de certa forma cada vez mais violenta, como destaca especialmente o Apocalipse, o último livro do Novo Testamento (cf. Ap 12, 7-9). Mas é precisamente esse livro que enfatiza a certeza que nos é dada por toda a revelação divina: a de que a luta terminará com a vitória definitiva do Bem. Nessa vitória, prefigurada no mistério pascal de Cristo, cumprir-se-á definitivamente o primeiro anúncio do livro do Gênesis, que, com um termo significativo, é chamado de protoevangelho, quando Deus adverte a serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher” (Gn 3, 15). Nessa fase definitiva, Deus, completando o mistério de sua paterna Providência, “nos libertará do poder das trevas” e nos “transferirá para o Reino do seu Filho amado” (cf. Cl 1, 13-14). Então, o Filho submeterá ao Pai também todo o universo, para que “Deus seja tudo em todos” (1Cor 15, 28).

Aqui se concluem as catequeses sobre Deus Criador das “coisas visíveis e invisíveis”, unidas em nossa abordagem à verdade sobre a divina Providência. Aos olhos do crente, é evidente que o mistério do início do mundo e da história está indissoluvelmente ligado ao mistério do fim, no qual a finalidade de toda a criação atinge seu cumprimento. O Credo, que une de forma tão orgânica tantas verdades, é verdadeiramente a catedral harmoniosa da fé.

De maneira progressiva e orgânica, pudemos admirar, estupefatos, o grande mistério da inteligência e do amor de Deus em sua ação criadora para com o cosmos, o homem e o mundo dos espíritos puros. Dessa ação, consideramos a matriz trinitária, a sábia finalização para a vida do homem, verdadeira “imagem de Deus”, chamado, por sua vez, a recuperar plenamente sua dignidade na contemplação da glória de Deus. Recebemos luz sobre um dos maiores problemas que inquietam o homem e permeiam sua busca pela verdade: o problema do sofrimento e do mal. Na raiz, não está uma decisão errada ou má de Deus, mas sua escolha, e de certa forma seu risco, de nos criar livres para nos ter como amigos. Da liberdade nasceu também o mal. Mas Deus não se rende e, com sua sabedoria transcendente, predestinando-nos a ser seus filhos em Cristo, dirige tudo com força e suavidade, para que o bem não seja vencido pelo mal.

Devemos agora nos deixar guiar pela revelação divina na exploração de outros mistérios de nossa salvação. Enquanto isso, acolhemos uma verdade que deve estar no coração de todo cristão: a de que existem espíritos puros, criaturas de Deus, inicialmente todos bons, e que, por uma escolha de pecado, se separaram irrevogavelmente em anjos da luz e anjos das trevas. E, enquanto a existência dos anjos maus nos exige vigilância para não cedermos às suas seduções, temos a certeza de que o poder vitorioso de Cristo Redentor envolve nossa vida para que sejamos nós mesmos vencedores. Nisso, somos validamente ajudados pelos anjos bons, mensageiros do amor de Deus, aos quais, instruídos pela tradição da Igreja, dirigimos nossa oração: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa, me ilumina. Amém”.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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A queda dos anjos rebeldes https://institutotronos.com.br/2025/04/01/a-queda-dos-anjos-rebeldes/ https://institutotronos.com.br/2025/04/01/a-queda-dos-anjos-rebeldes/#respond Tue, 01 Apr 2025 20:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=178 A queda dos anjos rebeldes]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 13 de agosto de 1986

Continuando o tema das catequeses anteriores dedicadas ao artigo da fé que trata dos anjos, criaturas de Deus, hoje nos aprofundamos para explorar o mistério da liberdade que alguns deles direcionaram contra Deus e seu plano de salvação em relação aos homens.

A queda dos anjos rebeldes

Como testemunha o evangelista Lucas, no momento em que os discípulos retornavam ao Mestre cheios de alegria pelos frutos colhidos em seu estágio missionário, Jesus pronuncia uma frase que faz pensar: “Eu via Satanás cair do céu como um raio” (Lc 10, 18). Com essas palavras, o Senhor afirma que o anúncio do Reino de Deus é sempre uma vitória sobre o diabo, mas, ao mesmo tempo, revela também que a edificação do Reino está continuamente exposta às ciladas do espírito do mal. Interessar-se por isso, como pretendemos fazer com a catequese de hoje, significa preparar-se para a condição de luta que é própria da vida da Igreja neste tempo final da história da salvação (como afirma o Apocalipse) (cf. Ap 12, 7). Por outro lado, isso permite esclarecer a reta fé da Igreja diante de quem a distorce, exagerando a importância do diabo, ou de quem nega ou minimiza seu poder maligno.

As catequeses anteriores sobre os anjos nos prepararam para compreender a verdade que a Sagrada Escritura revelou e que a Tradição da Igreja transmitiu sobre Satanás, ou seja, o anjo caído, o espírito maligno, também chamado de diabo ou demônio.

Essa “queda”, que apresenta o caráter de rejeição a Deus, com o consequente estado de “danação”, consiste na livre escolha daqueles espíritos criados que, de modo radical e irrevogável, rejeitaram Deus e seu Reino, usurpando seus direitos soberanos e tentando subverter a economia da salvação e a própria ordem de toda a criação. Um reflexo desse atitude pode ser encontrado nas palavras do tentador aos primeiros pais: “Sereis como Deus” ou “como deuses” (cf. Gn 3, 5). Assim, o espírito maligno tenta transplantar no homem a atitude de rivalidade, insubordinação e oposição a Deus, que se tornou quase a motivação de toda a sua existência.

No Antigo Testamento, a narrativa da queda do homem, relatada no livro do Gênesis, contém uma referência à atitude de antagonismo que Satanás quer comunicar ao homem para levá-lo à transgressão (cf. Gn 3, 5). Também no livro de Jó (cf. Jó 1, 11; 2, 5.7) lemos que Satanás tenta fomentar a rebelião no homem que sofre. No livro da Sabedoria (cf. Sb 2, 24), Satanás é apresentado como o artífice da morte, que entrou na história do homem junto com o pecado.

A Igreja, no Concílio Lateranense IV (1215), ensina que o diabo (ou Satanás) e os outros demônios “foram criados bons por Deus, mas se tornaram maus por sua própria vontade”. De fato, lemos na Carta de São Judas: “…os anjos que não conservaram sua dignidade, mas abandonaram sua morada, o Senhor os mantém presos em cadeias eternas, nas trevas, para o juízo do grande dia” (Jd 6). Da mesma forma, na Segunda Carta de São Pedro, fala-se de “anjos que pecaram” e que Deus “não poupou, mas… precipitou nos abismos tenebrosos do inferno, reservando-os para o juízo” (2Pd 2, 4). É claro que, se Deus “não perdoa” o pecado dos anjos, é porque eles permanecem em seu pecado, porque estão eternamente “nas cadeias” daquela escolha que fizeram no início, rejeitando Deus, contra a verdade do Bem supremo e definitivo que é o próprio Deus. Nesse sentido, escreve São João que “o diabo é pecador desde o princípio…” (1Jo 3, 8). E “desde o princípio” ele foi homicida e “não permaneceu na verdade, porque não há verdade nele” (Jo 8, 44).

Esses textos nos ajudam a compreender a natureza e a dimensão do pecado de Satanás, que consiste na rejeição da verdade sobre Deus, conhecida à luz da inteligência e da revelação como Bem infinito, Amor e Santidade subsistente. O pecado foi tanto maior quanto maior era a perfeição espiritual e a perspicácia cognitiva do intelecto angélico, quanto maior sua liberdade e sua proximidade com Deus. Ao rejeitar a verdade conhecida sobre Deus com um ato de sua livre vontade, Satanás torna-se o “mentiroso” cósmico e o “pai da mentira” (Jo 8, 44). Por isso, ele vive na negação radical e irreversível de Deus e busca impor à criação, aos outros seres criados à imagem de Deus, e especialmente aos homens, sua trágica “mentira sobre o Bem” que é Deus. No livro do Gênesis, encontramos uma descrição precisa dessa mentira e falsificação da verdade sobre Deus, que Satanás (sob a forma de serpente) tenta transmitir aos primeiros representantes do gênero humano: Deus seria ciumento de suas prerrogativas e, por isso, imporia limitações ao homem (cf. Gn 3, 5). Satanás convida o homem a libertar-se da imposição desse jugo, tornando-se “como Deus”.

Nessa condição de mentira existencial, Satanás torna-se – segundo São João – também “homicida”, ou seja, destruidor da vida sobrenatural que Deus, desde o início, havia enxertado nele e nas criaturas feitas à “imagem de Deus”: os outros espíritos puros e os homens; Satanás quer destruir a vida segundo a verdade, a vida na plenitude do bem, a vida sobrenatural da graça e do amor. O autor do livro da Sabedoria escreve: “…a morte entrou no mundo por inveja do diabo, e a experimentam aqueles que lhe pertencem” (Sb 2, 24). E no Evangelho, Jesus Cristo adverte: “Temei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na Geena” (Mt 10, 28).

Como efeito do pecado dos primeiros pais, esse anjo caído conquistou, em certa medida, o domínio sobre o homem. Essa é a doutrina constantemente confessada e anunciada pela Igreja, e que o Concílio de Trento confirmou no tratado sobre o pecado original (cf. DS 1511): ela encontra dramática expressão na liturgia do Batismo, quando se pede ao catecúmeno que renuncie ao demônio e às suas seduções.

Desse influxo sobre o homem e sobre as disposições de seu espírito (e de seu corpo), encontramos várias indicações na Sagrada Escritura, na qual Satanás é chamado de “o príncipe deste mundo” (cf. Jo 12, 31; 14, 30; 16, 11), e até mesmo o “deus deste mundo” (2Cor 4, 4). Encontramos muitos outros nomes que descrevem suas relações nefastas com o homem: “Belzebu” ou “Belial”, “espírito imundo”, “tentador”, “maligno” e, finalmente, “anticristo” (1Jo 4, 3). Ele é comparado a um “leão” (1Pd 5, 8), a um “dragão” (no Apocalipse) e a uma “serpente” (Gn 3). Muito frequentemente, para designá-lo, é usado o nome “diabo”, do grego “diaballein” (de onde vem “diabolos”), que significa: causar a destruição, dividir, caluniar, enganar. E, de fato, tudo isso acontece desde o início por obra do espírito maligno, que é apresentado pela Sagrada Escritura como uma pessoa, embora se afirme que ele não está sozinho: “somos muitos”, gritam os demônios a Jesus na região dos gerasenos (Mc 5, 9); “o diabo e seus anjos”, diz Jesus na descrição do futuro juízo (cf. Mt 25, 41).

Segundo a Sagrada Escritura, e especialmente o Novo Testamento, o domínio e o influxo de Satanás e dos outros espíritos malignos abrangem todo o mundo. Pensemos na parábola de Cristo sobre o campo (que é o mundo), sobre a boa semente e sobre a má, que o diabo semeia no meio do trigo, buscando arrancar dos corações o bem que neles foi “semeado” (cf. Mt 13, 38-39). Pensemos nas numerosas exortações à vigilância (cf. Mt 26, 41; 1Pd 5, 8), à oração e ao jejum (cf. Mt 17, 21). Pensemos naquela forte afirmação do Senhor: “Esta espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum outro modo, senão pela oração” (Mc 9, 29). A ação de Satanás consiste, antes de tudo, em tentar os homens ao mal, influenciando sua imaginação e suas faculdades superiores para direcioná-las em sentido contrário à lei de Deus. Satanás põe à prova até mesmo Jesus (cf. Lc 4, 3-13), na tentativa extrema de contrariar as exigências da economia da salvação, tal como Deus a preordenou.

Não é excluído que, em certos casos, o espírito maligno chegue a exercer seu influxo não apenas sobre as coisas materiais, mas também sobre o corpo do homem, de modo que se fala de “possessões diabólicas” (cf. Mc 5, 2-9). Nem sempre é fácil discernir o que há de preternatural nesses casos, nem a Igreja se inclina ou facilita facilmente a tendência de atribuir muitos fatos a intervenções diretas do demônio; mas, em princípio, não se pode negar que, em sua vontade de prejudicar e levar ao mal, Satanás possa chegar a essa extrema manifestação de sua superioridade.

Devemos, finalmente, acrescentar que as impressionantes palavras do apóstolo João: “O mundo inteiro jaz sob o poder do maligno” (1Jo 5, 19), aludem também à presença de Satanás na história da humanidade, uma presença que se torna mais aguda à medida que o homem e a sociedade se afastam de Deus. O influxo do espírito maligno pode “ocultar-se” de modo mais profundo e eficaz: passar despercebido corresponde aos seus “interesses”. A habilidade de Satanás no mundo é induzir os homens a negar sua existência em nome do racionalismo e de qualquer outro sistema de pensamento que busca todas as saídas para não admitir sua ação. Isso, no entanto, não significa a eliminação da livre vontade e da responsabilidade do homem, nem a frustração da ação salvadora de Cristo. Trata-se, antes, de um conflito entre as forças obscuras do mal e as da redenção. São eloquentes, a esse respeito, as palavras que Jesus dirigiu a Pedro no início da paixão: “…Simão, eis que Satanás vos pediu para vos peneirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22, 31).

Por isso, compreendemos como Jesus, na oração que nos ensinou, o “Pai Nosso”, que é a oração do Reino de Deus, termina quase abruptamente, ao contrário de muitas outras orações de seu tempo, recordando-nos de nossa condição de expostos às ciladas do Maligno. O cristão, apelando ao Pai com o espírito de Jesus e invocando seu Reino, clama com a força da fé: não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal, do Maligno. Fazei, ó Senhor, que não caiamos na infidelidade a que nos seduz aquele que foi infiel desde o princípio.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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Criador das Coisas Invisíveis: Os Anjos https://institutotronos.com.br/2025/03/23/criador-das-coisas-invisiveis/ https://institutotronos.com.br/2025/03/23/criador-das-coisas-invisiveis/#respond Sun, 23 Mar 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=172 Criador das Coisas Invisíveis: Os Anjos]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 30 de julho de 1986

Na catequese anterior, detivemo-nos no artigo do Credo no qual proclamamos e confessamos Deus como criador não apenas de todo o mundo criado, mas também “criador das coisas invisíveis”, e refletimos sobre a existência dos anjos, chamados a se declarar por Deus ou contra Deus com um ato radical e irreversível de adesão ou de recusa à sua vontade de salvação.

Com base na Sagrada Escritura, os anjos, como criaturas puramente espirituais, apresentam-se à reflexão de nossa mente como uma realização especial da “imagem de Deus”, Espírito perfeitíssimo, como o próprio Jesus recorda à mulher samaritana com as palavras: “Deus é espírito” (Jo 4, 24). Os anjos são, desse ponto de vista, as criaturas mais próximas do modelo divino.

O nome que a Sagrada Escritura lhes atribui indica que o que mais importa na revelação é a verdade sobre as tarefas dos anjos em relação aos homens: anjo (angelus) significa, de fato, “mensageiro”. O termo hebraico “malak”, usado no Antigo Testamento, significa mais propriamente “delegado” ou “embaixador”. Os anjos, criaturas espirituais, têm a função de mediação e de ministério nas relações que existem entre Deus e os homens. Sob esse aspecto, a Carta aos Hebreus dirá que a Cristo foi confiado um “nome”, e, portanto, um ministério de mediação, muito superior ao dos anjos (cf. Hb 1, 4).

O Antigo Testamento destaca sobretudo a participação especial dos anjos na celebração da glória que o Criador recebe como tributo de louvor por parte do mundo criado. São especialmente os salmos que se fazem intérpretes dessa voz quando, por exemplo, proclamam: “Louvai o Senhor dos céus, louvai-o nas alturas. Louvai-o, todos os seus anjos…” (Sl 148, 1-2). Da mesma forma, o Salmo 102: “Bendizei o Senhor, todos os seus anjos, poderosos executores das suas ordens, prontos à voz da sua palavra”. Este último versículo do Salmo 102 indica que os anjos participam, de modo próprio, do governo de Deus sobre a criação, como “poderosos executores das suas ordens”, segundo o plano estabelecido pela divina Providência.

Em particular, aos anjos é confiada uma especial proteção e solicitude pelos homens, pelos quais apresentam a Deus suas súplicas e orações, como nos recorda, por exemplo, o Livro de Tobias (cf. especialmente Tb 3, 17 e 12, 12), enquanto o Salmo 90 proclama: “Ele ordenou aos seus anjos… que te levem nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra”. Seguindo o Livro de Daniel, pode-se afirmar que as tarefas dos anjos como embaixadores do Deus vivo estendem-se não apenas aos indivíduos e àqueles que têm tarefas especiais, mas também a nações inteiras (cf. Dn 10, 13-21).

O Novo Testamento destaca as tarefas dos anjos em relação à missão de Cristo como Messias, e, antes de tudo, ao mistério da encarnação do Filho de Deus, como constatamos no relato da anunciação do nascimento de João Batista, de Cristo mesmo, nas explicações e disposições dadas a Maria e José, nas indicações dadas aos pastores na noite do nascimento do Senhor, na proteção do recém-nascido diante do perigo da perseguição de Herodes (cf. Lc 1, 11. 26. 30 ss; 2, 9 ss; Mt 1, 20-1; 2, 13).

Mais adiante, os Evangelhos falam da presença dos anjos durante o jejum de 40 dias de Jesus no deserto (cf. Mt 4, 11) e durante a oração no Getsêmani (Lc 22, 43). Após a ressurreição de Cristo, será ainda um anjo, aparecendo sob a forma de um jovem, que dirá às mulheres que foram ao túmulo e ficaram surpresas ao encontrá-lo vazio: “Não tenhais medo. Vós buscais Jesus de Nazaré, o crucificado. Ele ressuscitou, não está aqui… Ide, dizei aos seus discípulos…” (Mc 16, 5-7).

Dois anjos são vistos também por Maria Madalena, que é privilegiada com uma aparição pessoal de Jesus (Jo 20, 12-17). Os anjos “aparecem” aos apóstolos após a ascensão de Cristo, para lhes dizer: “Homens da Galileia, por que ficais aí, olhando para o céu? Esse Jesus, que foi elevado ao céu, virá do mesmo modo como o vistes partir” (At 1, 10-11).

São os anjos da vida, da paixão e da glória de Cristo. Os anjos daquele que, como escreve São Pedro, “está à direita de Deus, tendo subido ao céu e recebido a soberania sobre os anjos, os principados e as potestades” (1 Pd 3, 22).

Se passamos à nova vinda de Cristo, ou seja, à “parusia”, encontramos que todos os sinóticos anotam que “o Filho do homem… virá na glória de seu Pai com os santos anjos”. Pode-se, portanto, dizer que os anjos, como espíritos puros, não apenas participam, do modo que lhes é próprio, da santidade do próprio Deus, mas, nos momentos-chave, cercam Cristo e o acompanham no cumprimento de sua missão salvífica em relação aos homens.

Da mesma forma, toda a Tradição e o magistério ordinário da Igreja atribuíram, ao longo dos séculos, aos anjos esse caráter particular e essa função de ministério messiânico.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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Criador dos Anjos, seres livres https://institutotronos.com.br/2025/03/22/criador-dos-anjos-seres-livres/ https://institutotronos.com.br/2025/03/22/criador-dos-anjos-seres-livres/#respond Sat, 22 Mar 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=169 Criador dos Anjos, seres livres]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 23 de julho de 1986

Continuamos hoje nossa catequese sobre os anjos, cuja existência, querida por um ato do amor eterno de Deus, professamos com as palavras do Símbolo Niceno-Constantinopolitano: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”.

Na perfeição de sua natureza espiritual, os anjos são chamados desde o início, em virtude de sua inteligência, a conhecer a verdade e a amar o bem que conhecem na verdade de maneira muito mais plena e perfeita do que é possível ao homem. Esse amor é o ato de uma vontade livre, de modo que, também para os anjos, a liberdade significa a possibilidade de fazer uma escolha a favor ou contra o Bem que eles conhecem, ou seja, o próprio Deus.

É preciso repetir aqui o que já recordamos anteriormente a respeito do homem: ao criar seres livres, Deus quis que no mundo se realizasse aquele amor verdadeiro que só é possível com base na liberdade. Ele quis, portanto, que a criatura, constituída à imagem e semelhança de seu Criador, pudesse, da maneira mais plena possível, tornar-se semelhante a Ele, Deus, que “é amor” (1 Jo 4, 16).

Ao criar os espíritos puros como seres livres, Deus, em sua Providência, não podia deixar de prever também a possibilidade do pecado dos anjos. Mas, justamente porque a Providência é sabedoria eterna que ama, Deus soube tirar da história desse pecado, incomparavelmente mais radical por ser o pecado de um espírito puro, o bem definitivo de todo o cosmos criado.

De fato, como diz claramente a revelação, o mundo dos espíritos puros aparece dividido entre bons e maus. Ora, essa divisão não ocorreu por criação de Deus, mas com base na liberdade própria da natureza espiritual de cada um deles. Ela ocorreu por meio da escolha que, para os seres puramente espirituais, possui um caráter incomparavelmente mais radical do que a do homem e é irreversível, dada a profundidade de intuição e penetração do bem de que sua inteligência é dotada.

A esse respeito, deve-se dizer também que os espíritos puros foram submetidos a uma prova de caráter moral. Foi uma escolha decisiva que dizia respeito, antes de tudo, ao próprio Deus, um Deus conhecido de maneira mais essencial e direta do que é possível ao homem, um Deus que a esses seres espirituais havia concedido, antes que ao homem, o dom de participar de sua natureza divina.

No caso dos espíritos puros, a escolha decisiva dizia respeito, antes de tudo, ao próprio Deus, o primeiro e supremo Bem, aceito ou rejeitado de maneira mais essencial e direta do que pode ocorrer no âmbito da livre vontade do homem. Os espíritos puros têm um conhecimento de Deus incomparavelmente mais perfeito do que o do homem, porque, com a potência de seu intelecto, não condicionado nem limitado pela mediação do conhecimento sensível, eles veem até o fundo a grandeza do Ser infinito, da primeira Verdade, do sumo Bem.

A essa sublime capacidade de conhecimento dos espíritos puros, Deus ofereceu o mistério de sua divindade, tornando-os assim participantes, mediante a graça, de sua infinita glória. Justamente por serem seres de natureza espiritual, havia em seu intelecto a capacidade, o desejo dessa elevação sobrenatural à qual Deus os havia chamado, para fazer deles, bem antes do homem, “participantes da natureza divina” (cf. 2 Pd 1, 4), partícipes da vida íntima d’Aquele que é Pai, Filho e Espírito Santo, d’Aquele que, na comunhão das três Pessoas divinas, “é Amor” (1 Jo 4, 16). Deus havia admitido todos os espíritos puros, antes e mais do que o homem, à eterna comunhão do amor.

A escolha feita com base na verdade sobre Deus, conhecida de forma superior em razão da lucidez de suas inteligências, dividiu também o mundo dos espíritos puros entre bons e maus. Os bons escolheram Deus como o Bem supremo e definitivo, conhecido à luz do intelecto iluminado pela revelação. Ter escolhido Deus significa que eles se voltaram para Ele com toda a força interior de sua liberdade, força que é amor. Deus tornou-se o fim total e definitivo de sua existência espiritual.

Os outros, porém, deram as costas a Deus, contra a verdade do conhecimento que indicava n’Ele o bem total e definitivo. Eles escolheram contra a revelação do mistério de Deus, contra sua graça que os tornava participantes da Trindade e da eterna amizade com Deus na comunhão com Ele por meio do amor.

Com base em sua liberdade criada, eles fizeram uma escolha radical e irreversível, assim como a dos anjos bons, mas diametralmente oposta: em vez de uma aceitação de Deus plena de amor, opuseram a Ele uma recusa inspirada por um falso senso de autossuficiência, de aversão e até de ódio, que se transformou em rebelião.

Como compreender uma tal oposição e rebelião a Deus em seres dotados de uma inteligência tão viva e enriquecidos de tanta luz? Qual pode ser o motivo de uma escolha tão radical e irreversível contra Deus? De um ódio tão profundo que parece ser unicamente fruto de loucura? Os Padres da Igreja e os teólogos não hesitam em falar de um “cegamento” produzido pela supervalorização da perfeição do próprio ser, levada ao ponto de ocultar a supremacia de Deus, que exigia, ao contrário, um ato de dócil e obediente submissão.

Tudo isso parece expresso de maneira concisa nas palavras: “Não te servirei!” (Jr 2, 20), que manifestam a recusa radical e irreversível de tomar parte na edificação do reino de Deus no mundo criado. “Satanás”, o espírito rebelde, quer o seu próprio reino, não o de Deus, e se ergue como o primeiro “adversário” do Criador, opositor da Providência, antagonista da sabedoria amorosa de Deus. Da rebelião e do pecado de Satanás, assim como do pecado do homem, devemos concluir, acolhendo a sábia experiência da Escritura, que afirma: “O orgulho é causa de ruína” (Tb 4, 13).

Fonte: Site oficial do Vaticano

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Criador das coisas visíveis e invisíveis https://institutotronos.com.br/2025/03/21/criador-das-coisas-visiveis-e-invisiveis/ https://institutotronos.com.br/2025/03/21/criador-das-coisas-visiveis-e-invisiveis/#respond Fri, 21 Mar 2025 08:08:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=166 Criador das coisas visíveis e invisíveis]]> Catequeses sobre os Anjos, Papa João Paulo II, Quarta-feira, 9 de julho de 1986

As nossas catequeses sobre Deus, Criador do mundo, não poderiam ser concluídas sem dedicar a devida atenção a um precioso conteúdo da revelação divina: a criação dos seres puramente espirituais, que a Sagrada Escritura chama “anjos”. Tal criação aparece claramente nos símbolos da fé, especialmente no Símbolo Niceno-Constantinopolitano: Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas (isto é, entes ou seres) “visíveis e invisíveis”.

Sabemos que o homem goza, dentro da criação, de uma posição única: graças ao seu corpo pertence ao mundo visível, enquanto, através da alma espiritual, que vivifica o corpo, está quase no limite entre a criação visível e a invisível. A esta última, segundo o Credo que a Igreja professa à luz da Revelação, pertencem outros seres, puramente espirituais, portanto não próprios do mundo visível, embora nele estejam presentes e atuantes. Eles constituem um mundo específico.

Hoje, como no passado, estes seres espirituais são discutidos com maior ou menor sabedoria. É preciso reconhecer que, às vezes, a confusão é grande, com o consequente risco de fazer passar como fé da Igreja a respeito dos anjos coisas que não pertencem à fé ou, vice-versa, de deixar de lado algum aspecto importante da verdade revelada.

A existência de seres espirituais que a Sagrada Escritura habitualmente chama “anjos” já era negada no tempo de Cristo pelos saduceus (cf. At 23, 8). Negam-na também os materialistas e racionalistas de todos os tempos. E, no entanto, como observa com perspicácia um teólogo moderno, “se quiséssemos desembaraçar-nos dos anjos, a própria Sagrada Escritura teria que ser radicalmente revista e com ela toda a história da salvação” (A. Winklhofer, Die Welt der Engel, Ettal 1961, p. 144, nota 2; em Mysterium salutis , II, 2, p. 726). Toda a Tradição é unânime sobre esta questão.

O Credo da Igreja, na sua essência, é um eco do que Paulo escreve aos Colossenses: “Porque nele (Cristo) foram criadas todas as coisas do céu e da terra, as visíveis e as invisíveis, tronos, dominações, principados, potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele” (Col. 1, 16). Isto é, Cristo que, como Filho-Verbo eterno e consubstancial ao Pai, é “primogênito de toda a criatura” (Col 1, 15), está no centro do universo como razão e fundamento de toda a criação, como já vimos nas catequeses precedentes e como ainda veremos quando falarmos mais diretamente sobre Ele.

A referência ao «primado» de Cristo ajuda-nos a compreender que a verdade sobre a existência e a ação dos anjos (bons e maus) não constitui o conteúdo central da Palavra de Deus. No Apocalipse, Deus fala em primeiro lugar “aos homens… e passa tempo com eles para os convidar e os receber em comunhão com Ele”, como lemos na Constituição Dei Verbum do Concílio Vaticano II (Dei Verbum 2). Deste modo, «a verdade profunda, tanto de Deus como da salvação dos homens», é o conteúdo central da Revelação que «brilha» mais plenamente na pessoa de Cristo (cf. Dei Verbum 2 ).

A verdade sobre os anjos é, em certo sentido, inseparável da Revelação central que é a existência, a majestade e a glória do Criador que resplandece em toda a criação (“visível” e “invisível”) e na ação salvífica de Deus na história do homem. Os anjos não são criaturas de primeiro plano na realidade da Revelação, mas pertencem-lhe plenamente, tanto que em alguns momentos os vemos cumprir missões fundamentais em nome do próprio Deus.

Tudo isto que pertence à criação entra, segundo a Revelação, no mistério da Divina Providência. O Vaticano I, que já citamos muitas vezes, afirma-o de forma exemplarmente concisa: «Tudo o que é criado, Deus preserva e dirige com a sua Providência “que estende de um extremo ao outro com vigor e governando todas as coisas com bondade”. (cf. Sb 8, 1). “Todas as coisas estão a nu e a descoberto aos seus olhos” (cf. Hb 4, 13), “mesmo o que se realizou pela livre iniciativa das criaturas” (DS 3.003).

A Providência abrange, portanto, também o mundo dos espíritos puros, que ainda mais plenamente que os homens são seres racionais e livres. Na Sagrada Escritura encontramos indicações preciosas que lhes dizem respeito. Há a revelação de um drama misterioso, mas real, que afetou estas criaturas angélicas, sem que nada escapasse à eterna Sabedoria, que, com força (fortiter) e, ao mesmo tempo, com bondade (suaviter), leva tudo à realização no reino do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Reconheçamos antes de tudo que a Providência, como amorosa Sabedoria de Deus, se manifestou precisamente ao criar seres puramente espirituais, através dos quais se expressa melhor a sua semelhança com Deus, que supera em muito tudo o que foi criado no mundo visível, juntamente com o homem, também ele imagem indelével de Deus. Deus, que é Espírito absolutamente perfeito, reflete-se sobretudo nos seres espirituais que, por natureza, isto é, pela sua espiritualidade, Lhe estão muito mais próximos do que as criaturas materiais e constituem quase o “ambiente” mais próximo do Criador.

A Sagrada Escritura oferece um testemunho bastante explícito desta máxima proximidade a Deus, dos anjos, dos quais fala, com linguagem figurada, como do “trono” de Deus, dos seus “exércitos”, do seu “céu”. Ela inspirou a poesia e a arte dos séculos cristãos que nos apresentam os anjos como a “corte de Deus”.

Fonte: Site oficial do Vaticano

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Santas Dominações: anjos poderosos e humildes

“Sabeis que os governantes das nações as dominam e os grandes a tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve. E o que quiser ser o primeiro entre vós seja aquele que serve” (Mt 20, 24-28).  

Continuando a nossa reflexão sobre os nossos irmãos celestiais, chegamos ao quarto coro da hierarquia celeste. Hoje, falaremos das Santas Dominações. Quem são? Por que possuem esse nome e como se relacionam com Deus e conosco?

A doutrina da Igreja, bem como os ensinamentos dos santos padres e medievais, nos ensinam que entre os anjos existe uma ordem. Uma vez que o céu é uma sociedade, onde, por sua vez, tem harmonia entre aqueles que nele habitam. Desse modo, depois de ter falado da primeira hierarquia, agora trataremos da segunda hierarquia do céu: o primeiro coro da segunda hierarquia; a tradição os chama de Dominações.

Veja bem, se a primeira hierarquia está ligada ao trono de Deus, no sentido que os Serafins, Querubins e Tronos assistem diretamente ao trono celeste, assim sendo, vivem uma dimensão de adoração íntima e próxima, em comunhão direta com o Senhor, participando da Sua glória fulgurosa. Por sua vez, os anjos da segunda hierarquia se caracterizam pelo serviço ministrado aos outros anjos. Sim, eles adoram a Deus servindo seus irmãos1.

Santas Dominações: significado

A palavra Dominações vem do grego Kyriotes e do latim Dominus, que na nossa língua vernácula se traduz para senhores. Pode-se pensar uma vez que eles são senhores, então, não é característico deles servirem, mas serem servidos, certo? Mas no reino dos céus não é assim.

Eu quis citar o texto do evangelho acima em que Jesus, nosso Senhor, ensina para os seus apóstolos que o modo de governar e de exercer a autoridade sobre alguém se baseia no serviço humilde de reconhecer que: se estou acima dos outros é para que os possa fazer subir à mesma dignidade onde me encontro.

Então, tudo isso faz sentido pelo fato de que as santas Dominações sendo anjos que governaram os outros anjos o fazem a exemplo de como Cristo governa o mundo. E como governa? Se esvaziando de si mesmo (Fl 2, 6-11); tornando-se semelhante aos seus irmãos (Hb 2,17); e servindo, tornando-se servo dos servos. O Filho de Deus é o Servo (Is 53) por excelência, Ele exerce a sua diaconia (serviço) ao resgatar homens e mulheres para Deus.

Os santos anjos não possuem poder por si mesmos, mas assim como nós eles participam da vida divina. Ora a fonte da autoridade das santas dominações reside no senhorio do único Senhor, do Único Dominus, do único Kyrios, por isso, os seus nomes derivam dessas palavras do grego e do latim, que remetem ao único Senhor que está sentado no trono.

Esses nossos irmãos possuem, antes de mais nada, a virtude da temperança e, ao mesmo tempo, aquela da humildade pelo qual reconhecem que, ao servir seus irmãos (incluindo nós), estão de alguma forma se configurando a Cristo. E são felizes e plenos em viver assim.

Nesses nossos irmãos, aquilo que nos chama a atenção é a capacidade que esses possuem no exercício do governo. Eles não se deixam corromper nem mesmo se distraem com coisas passageiras, uma vez que o centro vontade e intenção desses e o mover são o próprio Deus. Nisso, São Gregório Magno nos chama a atenção para uma realidade importante das santas dominações: antes de governarem os outros, eles governam e dominam a si mesmos2.

Governar a si mesmo

Governar a si mesmo é o maior de todos os desafios e, ao mesmo tempo, é o que se espera dos homens e dos anjos que dotados de razão, liberdade de escolha e intenção podem escolher voluntariamente como agir e viver no mundo3.

Portanto, antes de governar, conduzir e coordenar alguém, temos de nos perguntar se governamos a nós mesmos. Somente será um bom governante se aquele que governa aprendeu a governar a si mesmo4.

Nessa linha de pensamento, entendemos que as santas Dominações são os anjos que distribuem harmoniosamente as missões e tarefas aos outros anjos, mas com uma humildade e prontidão em servi-los. Por isso, são senhores.

A sua autoridade sobre seus subalternos não reside nas ordens, mas na ação de se colocar à disposição e se rebaixarem em direção aos que estão abaixo de si, comunicando e “iluminando” os outros anjos a respeito das ordens divinas5.

Ainda sobre as santas Dominações, Pseudo Dionísio nos ensina que esses anjos estão em um grau de elevação espiritual e comunhão com Deus tão profundas que os fazem serem livres de qualquer compromisso com alguma coisa que não seja o servir e adorar a Deus.

Esse servir os faz livres de qualquer apego ou idolatria de qualquer status de serem reverenciados, pois todo o seu ser está voltado para aquele que é o Senhor dos Senhores. Também eles se chamam dominações porque participam do único princípio de governo e de realeza que está presente no próprio Deus6.

O que Gregório quer dizer com estas palavras?

Dentro disso, o que me chama a atenção ainda sobre esses anjos de Deus, é que São Gregório Magno nos diz que:

“Aqueles que conseguem dominar a si mesmos e seus instintos estão próximos deste coro de anjos”7

Em um resumo, ele está afirmando que aqueles que dominam a si mesmos entram em comunhão com esses anjos. Portanto, esses nossos irmãos nos são propícios em momentos de tentação e de provação quando, por nossas forças, não conseguimos resistir ao pecado e aos outros vícios. Eles podem ser invocados para nos auxiliar. E como alegres irmãos que servem, eles virão prontamente a nos auxiliar, se nós recorrermos a eles.

Então, terminando a nossa reflexão podemos ter como exemplo esses “senhores” que reconhecem que existe um único Senhor que está acima de tudo e de todos e, mesmo sendo tão inacessível e alto, Ele se rebaixou na condição de servo para nos elevar à condição de filhos de Deus.

Santas Dominações, intercedei por nós!

Referências:

1 Cfr. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica II, Edições Loyola, São Paulo 2005, Q. 108, Art. 6, p.780.
2 Cfr. GREGORIO MAGNO, Ommelie XXXIV,11.
3 GIOVANNI PAOLO II, Udienza generale, Mercoledì, 6 agosto, 1986, 3.
4 Cfr. SEVERINO BOEZIO, Consolazione della filosofia, BUR, Milano 1999, 368-369.
5 Cfr. SÃO TOMÁS DE AQUINO, De veritate, Q. 9, Art. 1.
6 PSEUDO-DIONISIO, Hierarcha celeste, BIBLIOTHECA PATRISTICA, VIII, 18.
7 Cfr. GREGORIO MAGNO, Ommelie XXXIV,11-12.

Originalmente publicado no portal Canção Nova

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Quem são os mensageiros, protetores e guias de Deus? Os arcanjos são mensageiros de Deus, protetores e guias espirituais.

Dia 29 de setembro é festa litúrgica em honra aos Príncipes dos Anjos do Céu. Na tradição católica, os arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael desempenham papéis significativos como mensageiros e protetores divinos de Deus. Cada um deles possui características distintas e é venerado por diferentes motivos.

Neste artigo, exploraremos quem são esses arcanjos, o que a Igreja diz sobre eles, destacando seus papéis e influências na fé católica.

Arcanjo Miguel: O Defensor do Povo de Deus

O Arcanjo Miguel é frequentemente associado à coragem e à proteção divina. Seu nome, em hebraico, significa “Quem é como Deus?”. Ele é considerado o líder dos exércitos celestiais e é o defensor dos fiéis contra as forças do mal. Miguel é frequentemente representado como um guerreiro celestial, empunhando uma espada flamejante para derrotar Satanás e suas hostes demoníacas.

A devoção a este Arcanjo nasce do coração da Igreja agradecida pelos favores que, ao longo dos séculos, foi favorecida por intermédio da intercessão deste irmão poderoso e íntimo do Senhor.

São Miguel, ao longo da história, tornou-se modelo de adoração, dedicação e amor a Deus e a cada um de nós, justamente por ter lutado contra a serpente enganadora, que, vomitando seu rio de morte, tenta ainda destruir cada fiel (Ap 12,17).

A presença de São Miguel em nossa vida é concreta. Este Arcanjo se caracteriza como um irmão mais velho, que, conhecendo as artimanhas do inimigo, nos defende e luta em nosso favor, para que a promessa de Deus se cumpra em nossa vida. Neste sentido, São Gregório Magno nos escreveu a respeito da importância de quem é o Príncipe dos anjos e porque ele vem em nosso auxílio:

“Todas as vezes que se trata de fazer coisas maravilhosas, o enviado é Miguel, para dar a entender por suas ações e por seu nome que ninguém pode fazer aquilo em que só Deus é eficiente”1.

Entre os príncipes dos anjos, é o primeiro a se posicionar no céu para vir em socorro dos seus irmãos aqui na Terra. São Miguel nos ama tanto, que Deus concedeu a Ele ser o guardião das almas e do Paraíso. Uma das pessoas que, com certeza, você encontrará no céu será Ele, e descobrirás o quanto este irmão intercedeu por sua vida! Na Igreja Católica, São Miguel é venerado como o padroeiro dos soldados e protetor da Igreja. A oração a São Miguel é recitada por muitos católicos como uma súplica pela proteção divina em tempos de adversidade e tentação.

Arcanjo Gabriel: O Embaixador de Deus

O Arcanjo Gabriel é amplamente conhecido por sua função como mensageiro divino. Seu nome significa “Deus é minha força”. Gabriel é lembrado por anunciar o nascimento de Jesus a Maria, a Virgem Mãe, no episódio conhecido como a Anunciação. Foi Gabriel quem trouxe a Boa Nova de que Maria conceberia o Filho de Deus pelo Espírito Santo.

São Gabriel, na cultura judaica, é considerado o Anjo da justiça de Deus. Ora, quando o Altíssimo precisa fazer justiça à Terra, ele envia o seu Arcanjo. Foi por isso que Gabriel foi enviado por Deus a Zacarias, que pedia a Deus justiça pela sua condição de humilhação de não ter gerado filhos e de ser estéril junto com sua esposa. A sua missão junto ao pai de João Batista é a prova concreta de que Deus não é indiferente aos nossos sofrimentos.

O Arcanjo Gabriel também é o arcanjo do mistério da encarnação do Verbo. Por isso, nas iconografias antigas, temos sempre São Gabriel associado a Virgem Maria.

Por fim, Gabriel é considerado o arcanjo da esperança, da revelação e da comunicação. Sua influência é frequentemente invocada por aqueles que buscam orientação espiritual e inspiração.

Arcanjo Rafael: O Médico do céu e guerreiro de Deus

O Arcanjo Rafael é conhecido por sua missão como um curador divino. Seu nome significa “Deus curou”. Na Bíblia, especificamente no Livro de Tobias, Rafael desempenha um papel crucial ao curar Tobit da cegueira e auxiliá-lo em sua jornada.

Infelizmente, ao longo do tempo, São Rafael foi reduzido a sua função curativa. Mas poucos sabem que, afinal, o Arcanjo em questão é também um anjo poderosíssimo contra o maligno. Ele liberta Sara do espírito maligno Asmodeu, e o acorrenta sozinho no deserto.

Ele também é o protetor dos noivos, das famílias e dos peregrinos. O que isso significa? Que São Rafael é o arcanjo da cura e da libertação. Sobre este assunto, nos escreveu Bento XVI:

“São Rafael é-nos apresentado sobretudo no Livro de Tobias como o Anjo ao qual é confiada a tarefa de curar. Quando Jesus envia os Seus discípulos em missão, com a tarefa do anúncio do Evangelho está sempre ligada à de curar. O bom Samaritano, acolhendo e curando a pessoa ferida que jaz à beira da estrada, torna-se silenciosamente uma testemunha do amor de Deus. Este homem ferido, com necessidade de curas, somos todos nós. Anunciar o Evangelho já em si é curar, porque o homem precisa, sobretudo, da verdade e do amor.

Do Arcanjo Rafael são referidas no Livro de Tobias duas tarefas emblemáticas de cura. Ele cura a comunhão importunada entre homem e mulher. Cura o seu amor. Afasta os demônios que, sempre de novo, rasgam e destroem o seu amor. Purifica a atmosfera entre os dois e confere-lhes a capacidade de se receberem reciprocamente para sempre.”2

Os arcanjos são seres angelicais que agem como mensageiros de Deus

Como vemos, a veneração dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael é uma parte importante da tradição católica. Eles são considerados seres angelicais que agem como mensageiros de Deus, protetores e guias espirituais para os fiéis. A Igreja Católica ensina que a devoção a esses arcanjos não é adoração, mas sim forma de buscar a intercessão e proteção divina por meio de suas poderosas influências.

Os católicos são encorajados a recorrer a esses arcanjos em momentos de necessidade, seja para pedir proteção contra o mal, orientação espiritual ou cura. As orações a São Miguel, São Gabriel e São Rafael são comuns na liturgia católica e nas práticas de devoção pessoal.

A intercessão celestial e na proteção divina na nossa jornada da fé!

Resumindo: Miguel, Gabriel e Rafael desempenham papéis essenciais na tradição católica, representando diferentes aspectos da fé e da devoção. Miguel é o protetor contra as forças do mal, Gabriel é o mensageiro divino que anunciou o nascimento de Jesus, e Rafael é o curador divino que oferece auxílio em momentos de necessidade. A devoção a esses arcanjos continua a ser uma parte significativa da espiritualidade católica. Demonstram a crença na intercessão celestial e na proteção divina na jornada da fé.

Que nesta festa aos santos Arcanjos, possamos mais uma vez descobrir o amor e auxílio que estes três campeões de Deus exercem em nossas vidas!

Santos Arcanjos, rogai por nós.

Referências:

1 Gregorio Magno, Homilia 34.
Bento XVI, Homilia Por Ocasião Da Ordenação Episcopal A Seis Novos Bispos Na Festa Dos Arcanjos Miguel, Gabriel E Rafael, 29 de setembro 2007.

Originalmente publicado no portal Canção Nova

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