adoração – Instituto Tronos https://institutotronos.com.br Centro de formação do Apostolado São Rafael e Santos Anjos Mon, 17 Mar 2025 17:26:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.1 https://institutotronos.com.br/wp-content/uploads/2025/03/site-icon-02-150x150.webp adoração – Instituto Tronos https://institutotronos.com.br 32 32 A hierarquia dos anjos e o modo da adoração no Céu https://institutotronos.com.br/2025/03/17/a-hierarquia-dos-anjos/ https://institutotronos.com.br/2025/03/17/a-hierarquia-dos-anjos/#respond Mon, 17 Mar 2025 17:26:31 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=59 A hierarquia dos anjos e o modo da adoração no Céu]]> hierarquia dos anjos e o modo da adoracao no ceu

A hierarquia dos anjos e o modo da adoração no Céu

“Então, reparei e também ouvi a voz de grande multidão de anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhares de milhares, e de milhões de milhões”. (Ap 5,11)

Os primeiros filhos do Altíssimo

Desde os tempos antigos, ainda quando o mundo físico não tinha sido criado e nem mesmo ainda o homem do pó da terra tinha sido feito, Deus, em uma explosão de amor, criou os anjos.

Seres espirituais, diferentes em natureza dos homens, mas igual em vontade e exercício da própria liberdade, foram chamados de primeiros filhos do Altíssimo. A existência dos anjos faz parte do patrimônio da nossa fé.

Os anjos foram criados antes das coisas visíveis, pelo único Deus capaz de chamar à existência todas as coisas. Por isso, ao professarmos o Credo Apostólico declaramos: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador dos Céu e da Terrade todas as coisas visíveis e invisíveis”.

Por coisas invisíveis, entendemos toda a realidade espiritual que, por sua vez, se designa à criação dos seres celestiais. Por isso, Deus primeiro criou o Céu e depois a Terra (Gn 1).

Ao criar o Céu, Ele criou os anjos; e ao criar a Terra, Ele criou o homem. Sendo assim, desejamos, neste artigo, expor, de maneira resumida, como os anjos estão organizados no Reino dos Céus. Para isso, deveremos buscar, na Tradição da Igreja e na revelação, o que o tesouro da nossa fé nos fala a respeito.

Como os anjos se relacionam com o seu Criador?

Antes de falar da organização dos anjos, temos que, primeiramente, entender que cada coro angélico tem o seu modo de relacionar-se com Deus. E como os anjos se relacionam com o seu Criador?

Através da adoração. A adoração é para os anjos o alimento e sustento da vida angélica (Tb 12,19). Logo, ao falarmos dos nove coros das três hierarquias celestes falaremos da adoração que existe no Céu, e pelo qual nós homens somos a síntese.

É isso mesmo, o homem encerra em si a síntese da adoração de todos os anjos.

O primeiro a individualizar essa realidade angélica foi um monge do antigo oriente cristão (VI séc.) chamado Pseudo-Dionísio. Ele dividiu os anjos em sua famosa obra “A Hierarchia Celeste”. Em linha com seu pensamento, teremos o Grande Gregório Magno e o doutor angélico São Tomás de Aquino.

Em que forma estão organizados os anjos no céu?

Quando pensamos em hierarquia, não podemos pensar em uma forma triangular, mas na forma circular. Por que isso? Porque todos os anjos estão em volta do trono do cordeiro (Ap.5).

Dentro disso, a tradição, a começar com o monge Dionísio, ensina-nos que os anjos estão divididos em três hierarquias e que cada uma delas possui três coros (grupos) de anjos que adoram e se relacionam com Deus em modos diferentes. A divisão é a seguinte:

Primeira Hierarquia

SERAFINS: São os anjos que, possuindo seis asas, adoram a Deus em uma intimidade e profundidade tamanha, que “queimam” de amor na presença do Senhor.

QUERUBINS: Sustentam a glória de Deus e a adoração no Céu.

TRONOS: São habitados pela presença e a glória do Senhor, e a comunicam aos outros anjos.

Segunda Hierarquia

DOMINAÇÕES: Adoram a Deus sendo senhores dos outros anjos. Porém, o senhorio deles não deve ser interpretado como alguém que domina, mas sim como aqueles que servem.

VIRTUDES: São anjos poderosos e fortes. Eles possuem a fortaleza de Deus. Devem ser invocados no tempo da prova e da fraqueza no caminho.

POTESTADES: Os anjos potestades são anjos com autoridade para governar os outros anjos.

Terceira Hierarquia

PRINCIPADOS: Vem de príncipe, que entre os demais possuem a primazia. Esses anjos são responsáveis de países, cidades e nações.

ARCANJOS: São sete que assistem na presença de Deus (Ap 8,2). Esses sete seres são os chefes de todos os outros anjos.

ANJOS: Adoram a Deus servindo diretamente aos homens, criados a imagem e semelhança de Deus.

Eles estão próximos de nós

Assim, concluímos este artigo afirmando que o Céu, povoado por esses nossos irmãos celestes, possui também a sua harmonia, isto é, a sua ordem. Tudo ordenado e cuidadosamente predisposto por Deus. Eles estão ao redor do trono do Cordeiro cantando para sempre: Santo, Santo, Santo… (Is 6,1-7).

A mensagem dessa realidade celeste é que os anjos, em suas hierarquias, não estão distantes de nós.

Desde o momento em que o Cordeiro de Deus se encarnou, os anjos, que estavam de “costas” para a humanidade, agora nos olham de frente e cantam para nós homens: “Glória a Deus nos mais altos dos céus e paz na terra aos homens que ele ama”. (Lc 2,14)

Tome posse dessa graça. Os anjos de Deus louvam e adoram o Senhor, e citam seu nome em suas orações. Este é a graça de pertencer ao corpo de Cristo, isto é, Sua Igreja.

Referências:

BÍBLIA DE JERUSALÉM, Paulus, São Paulo, 2002.
JOÃO PAULO II. Os Anjos: sete catequeses do Santo Padre. São Paulo: Edição da Basílica, 1988.
PSEUDO-DIONÍSIO, Hierarchia celeste, VII.
TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica. São Paulo: Edições Loyola, 2002. v. 2.
BENTO XVI, Homilia por ocasião da ordenação episcopal na festa dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, Setembro 2007.

Imagem: Mosaic ceiling of the Battistero di San Giovanni, foto de Shane Lin no Flickr

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O coro dos anjos tronos: adoradores habitados por Deus https://institutotronos.com.br/2025/03/17/o-coro-dos-anjos-tronos/ https://institutotronos.com.br/2025/03/17/o-coro-dos-anjos-tronos/#respond Mon, 17 Mar 2025 12:12:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=66 O coro dos anjos tronos: adoradores habitados por Deus]]> o coro dos anjos tronos adoradores habitados por deus

“Enquanto eu olhava, vi ali quatro rodas junto aos querubins, uma roda junto a cada um deles…, as quatro rodas tinham o mesmo aspecto como se estivesse uma dentro da outra, ao se moverem caminhavam nas quatro direções e não se voltavam” (Ez 10,9-11). 

Os tronos, ou ofanins em hebraico, são os seres espirituais que estão próximos do trono de Deus com os serafins e querubins. Na visão de Ezequiel, eles formam as “rodas” do carro de Deus. Caminham juntos ao lado dos querubins e possuem a forma de fogo, tendo o seu reflexo límpido como o crisólito (Ez 10,9).

Eles formam o terceiro coro da primeira hierarquia celeste. Possuem uma característica singular no modo como adoram a Deus. Se os serafins queimam na presença do Deus Todo-poderoso, e os querubins possuem a graça do sustento da shekinah divina, a tal ponto de ter em meio a eles as brasas da presença do Senhor, os Tronos, por sua vez, são habitados por Deus.

De fato, os anjos do terceiro coro da primeira hierarquia celeste possuem a graça de serem chamados de SEDE DEI (trono de Deus), no sentido que são o “assento” onde Deus possui seu trono.

Com esses maravilhosos seres celestiais, aprendemos a dimensão da adoração feita e vivida na comunhão e na unidade, buscando se assemelhar ao modo como Deus se relaciona consigo mesmo, isto é, em um movimento de amor que sai de si em direção ao outro e ao mesmo tempo volta para dentro de si1.

Vamos entender melhor sobre os anjos tronos?

A tradição judaico-cristã, de um modo especial aquela patrística, viram os santos anjos tronos como aqueles que não estão somente diante do mistério de Deus ou possuem a Sua presença fulgurosa em meio a eles, mas carregam esta presença em si mesmos, ou melhor, dentro de si. Então, podemos dizer que a adoração dos tronos está baseada em uma profunda intimidade com o seu Criador.

1 – Movem-se como rodas de fogo: movimento de amor

Os tronos são normalmente representados como rodas aladas que estão entrelaçadas entre si. Na teologia bizantina, a luz da visão de Ezequiel, os tronos são as “rodas” do carro de Deus. Enquanto os querubins sustentam a glória do Altíssimo, os tronos, por sua vez, carregam em si a presença inefável do Todo-Poderoso. Mas por que roda?

No mundo antigo, a roda tinha o significado de movimento que a divindade realiza em direção a alguém2. Neste sentido, podemos dizer que os Ofanins possuem em sua natureza angélica a capacidade de adorar a Deus em uma atitude de constante saída de si, fazendo com que a sua adoração não seja algo externo somente, mas profundamente íntimo e secreto.

Então, o que podemos aprender é que a relação desses com o Senhor se constitui tão profunda a ponto de esses se moverem como rodas levando sobre si a onipresença divina em seu íntimo. A vida desses anjos está profundamente ligada ao desejo constante de servir a Deus em intimidade e unidade, comunicando aos outros das hierarquias inferiores à maravilhosa realidade da habitação de Deus no coração de cada adorador3.

Sendo habitados por Deus, esses nossos irmãos se tornam o modelo de como é a vida de um adorador. Eu gostaria de fazer uma analogia de como os santos tronos poderiam nos ensinar sobre essa inabitação de Deus dentro deles.

Imaginemos uma lâmpada. Jesus nos ensinou que somos a luz do mundo (Mt 5, 13–16). Ora, a luz da lâmpada não lhe pertence, porque a lâmpada (lampião, por exemplo) carrega dentro de si a luz do fogo que ilumina do seu interior para fora. Nesse sentido, podemos dizer que ser luz do mundo para o cristão é levar em seu seio a presença d’Aquele que habita a nossa alma, isto é, o próprio Deus Uno e Trino.

Não somos nós a luz, mas Aquele que habita em nós e veio a este mundo (Jo 1, 9) é a única fonte de iluminação em meio às trevas. Portanto, o que aprendemos com esses irmãos é que eles são portadores da presença de Deus para os anjos e homens, como uma lâmpada que ilumina de dentro para fora.

2 – Carregam em si a presença de Deus

Outra característica dos santos tronos é aquela de “carregarem” a glória de Deus. Ao mesmo tempo que são comparados a rodas incandescentes que levam de um lado para outro a inabitação divina dentro de si, eles também são considerados os assentos de Deus.

Ora, tal analogia a um assento nos dá a ideia de que eles estão abertos a acolher em si a presença do Rei e toda a Sua majestade. Portanto, podemos também dizer que esses nossos irmãos estão profundamente ligados à realidade de governo e autoridade que emana diretamente de Deus4.

São Tomás de Aquino afirma que os tronos, por terem esta característica de acolherem em si mesmos a presença do Senhor, podem ser considerados os anjos que estão em maior intimidade e proximidade com Deus, uma vez que o próprio Deus a toca com a Sua presença fulgurosa ao “assentar-se” neles. Este assentar deve ser entendido como uma espécie de posse, e de habitação5.

Sendo assim, a união destes com o Senhor faz sim que estes não se corrompam, nem mesmo se deixem levar por outras distrações, uma vez que possuem em si mesmos toda a fonte de toda bem-aventurança. Já aqui aprendemos uma grande lição com os ofanins, a plenitude da nossa existência não está na beleza exterior e nas simples aparências, mas na riqueza interior da presença do Todo-Poderoso dentro de nós.

Para entendermos melhor, faço outra pergunta: o que é mais precioso, a caixa do tesouro ou o tesouro em si mesmo, dentro da caixa? Claro que é o tesouro! Por mais que a caixa seja esplendorosa, o que a valoriza em sua plenitude são as pedras que dentro dela se encerram.

Do mesmo modo são os tronos: podemos nos maravilhar com a beleza luminosa de seus rostos, mas a maior beleza deles está no fato de terem dentro de si a fonte de todas as belezas. O que torna um poço precioso? Não é a decoração da sua borda, mas a água que este pode dar. Do mesmo modo, temos que entender que aquilo que está dentro torna precioso o que está fora.

O que podemos aprender com esses nossos irmãos?

Eles nos ensinam que a vida verdadeira, aquela que um dia experimentaremos eternamente, consiste em cada vez mais nos deixarmos ser habitados por Deus. O cume de toda intimidade é quando deixamos que alguém habite dentro de nós. Assim o amor é perfeito, porque nos une ao amado.

Sobre os tronos, São João Paulo II nos diz que Deus, a perfeição por excelência, deixa-se refletir nos tronos. Então, podemos dizer que os anjos tronos são reflexos da perfeição divina6.

Ao término desta nossa breve reflexão, o que podemos aprender com esses nossos irmãos? Que mesmo sendo pequenos, podemos deixar o espaço do nosso coração para que Deus se assente e tome posse como único Senhor de nossas vidas. Peçamos a intercessão dos nossos irmãos Tronos.

Eles nos auxiliam na busca constate por Deus e no desejo de nos unirmos a Ele. Quando alguém está longe do Senhor, procure invocar a presença deles, para auxiliarem o perdido, fazendo-o redescobrir a grandeza de ser reflexo do Todo-Poderoso que se faz pequeno para nos encontrar.

Referências:

1 Cfr. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica II, Edições Loyola, São Paulo 2005, Q. 108, Art. 5, p.776.
2 Cfr. DICIONARIO DE FIGURAS E SÍMBOLOS BÍBLICOS, Paulus, São Paulo 2006, p. 211-212.
3 Cfr. PSEUDO-DIONISIO, Hierarcha celeste, BIBLIOTHECA PATRISTICA, VII, p. 14.
4 Cfr. GREGORIO MAGNO, Ommelie XXXIV, 1.
5 Cfr. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica II, Edições Loyola, São Paulo 2005, Q. 108, Art. 6, p.777.
6 Cfr. GIOVANNI PAULO II, Udienza Generale, Quarta Feira, 9 de Julho 1986, 4.

Originalmente publicado no portal Canção Nova

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Anjos querubins: guardiões da adoração https://institutotronos.com.br/2025/03/14/anjos-querubins/ https://institutotronos.com.br/2025/03/14/anjos-querubins/#respond Fri, 14 Mar 2025 00:52:00 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=63 Anjos querubins: guardiões da adoração]]> anjos querubins guardioes da adoracao

“Fez ainda um querubim numa extremidade e o segundo na outra, formando uma peça só com o propiciatório. Os Querubins tinham asas estendidas para cima, cobrindo com elas o propiciatório. Estavam com as faces voltadas uma para a outra, com o rosto voltado para o propiciatório”. (Ex 37, 8-9)

A presença de Deus

A palavra querubim vem do hebraico כְּרוּב (keruv), que significa “aquele que é propício” ou “abençoador”. De fato, a tradição bíblica sempre ligou esses seres celestiais à dimensão da adoração em relação direta ao trono de Deus e da Sua presença gloriosa.

A primeira citação desses nossos irmãos se encontra em Gn 3,24, onde o Senhor os coloca na entrada do paraíso, com uma espada de fogo que gira, impedindo o homem caído de entrar.

O que podemos falar desses seres angelicais é que eles possuem a dimensão da adoração em forma comunitária e, estando em comunhão uns com os outros, ao adorarem, trazem em si a presença do fogo da glória de Deus.

Então, se os serafins queimam na presença do Senhor e se tornam abrasadores, os querubins, por sua vez, carregam a presença de Deus no meio deles (Ez 10, 6-9). Esse fogo que eles guardam em si mesmo nada mais é do que a presença do Senhor, que se manifesta em forma de fogo, que ilumina e purifica a noite e o dia.

Referências sobre os querubins

A referência mais conhecida que temos dos Keruvim é a imagem dos dois sobre a tampa da Arca da Aliança. Vejamos os detalhes do texto sagrado:

Estão ajoelhados um de frente para outro, e formam uma só peça unidos pelos joelhos

Ao construir a arca, o Senhor ordenou a Moisés que erigisse sobre a tampa desta (propiciatório) dois querubins feito de ouro maciço.

Estar um de frente para o outro demonstra a dimensão da comunhão na adoração. Por isso, Nosso Senhor ensina que “onde dois ou três estão reunidos no meu nome, eu estou no meio dele” (Mt 10,20), dando a cumprir a realidade de dois corações, unidos em comum acordo, ao entrar em relacionamento com o seu Deus.

Eles adoram unidos, fazendo que se tornem pelos joelhos uma “peça” só, isto é, uma única oração.

Conhecedores dos segredos de Deus

Esses nossos irmãos do segundo coro da primeira hierarquia celeste estão profundamente em comunhão com o Senhor. Por tê-lo em meio a si, em forma de fogo devorador, estes entram em relação com Deus e este se faz conhecer, ensinando-os os mistérios e segredos mais íntimos.

Por isso, a tradição teológica entende que os “abençoadores” são capazes de ter a ciência de Deus e de seus segredos e, por esse motivo, podem ensinar aos outros anjos e homens sobre os segredos da revelação divina. A este propósito nos ensina o grande Pseuso-Dionisio:

«Os Querubins designam aptidões a conhecerem e a contemplarem a Deus, a receberem os mais altos dons da Sua Luz, a contemplarem na sua potência primordial o esplendor divino, a acolherem em si a plenitude dos dons que transmitem sabedoria e a comunicá-los em seguida às essências inferiores graças a expansão da própria sabedoria que lhes foi transmitida»1.(Pseudo-Dionísio Aeropagita)

A sabedoria que os envolve, e o conhecimento próximo que estes possuem da visão beatifica faz, sim, que estes seres maravilhosos conheçam a profundidade de Deus e o seu Amor.

Se os serafins ardem de amor, os querubins por sua vez são abrasados pelo conhecimento elevado e místico de Deus2. Não é por nada que em todas as referências em que se faz dos querubins, veremos sempre que estão em dois ou mais e, no meio deles, está a presença do Senhor.

A mística da liturgia

A esse respeito, a liturgia católica nos ensina que, ao celebrarmos os santos mistérios, fazemos a experiência pessoal e comunitária de ter em nosso meio Aquele que se dá totalmente em seu Corpo e em seu Sangue.

Logo, o que vivemos, enquanto corpo místico de Cristo, nada mais é que a experiência de adorar a Deus em um louvor que une muitas vozes e corações, e ao subir ao trono divino como um incenso, chega a Deus como uma única oração de tantos santos (Ap 8,3).

As asas estendidas para cima cobrindo o propiciatório

Um segundo elemento importante, que temos na mensagem simbólica da Arca da Aliança, é as asas dos querubins. Tais asas estão voltadas para cima e, ao mesmo tempo, a sombra destas protegem a tampa do propiciatório.

Aqui, podemos aprender duas lições: a primeira é que as asas apontadas para o alto representam toda a elevação espiritual dos keruvins, que tem a sua liberdade voltada inteiramente para Deus; a segunda é o “cobrir” o propiciatório.

Este nos ensina que as asas dos querubins além de os elevarem a Deus os fazem serem anjos protetores de quem está embaixo deles. Logo, o querubim também é guarda não somente do paraíso, mas de cada adorador.

As asas, na linguagem bíblica e no mundo antigo, representam a proteção e, ao mesmo tempo, a liberdade3.

É debaixo das asas do Altíssimo que o fiel encontra o seu refúgio nos tempos de tribulação (Sl 90/91). Jesus chorou sobre Jerusalém devido à sua rejeição de não ter aceitado a proteção de suas asas que como uma galinha acolhe os seus pintainhos (Lc 13,34).

Guardiões do Paraíso

Interessante é o comentário de São João Crisóstomo a respeito dos querubins. Em sua homilia sobre os dois ladrões, ele nos ensina que, ao prometer o paraíso celeste ao ladrão na cruz, que Nosso Senhor tirou a espada da condenação da entrada do Éden e abriu para nós a porta que antes tinha sido fechada.

Os mesmos querubins que impediam a nossa entrada no céu, hoje são nossos irmãos que conosco adoram e louvam a Deus para sempre4.

Concluindo, podemos dizer que hoje é possível entrar em comunhão com estes irmãos, uma vez que a sua natureza está voltada completamente para os mistérios divinos.

A beleza em tudo isso é que, se os querubins entram no mistério do conhecimento e ciência de Deus através das brasas e do fogo que queima no meio deles, nós, por excelência, na liturgia eucarística, temos em nosso meio o fogo devorador da Eucaristia, e ali encontramos prostrados os querubins que, junto conosco, adoram ao Cordeiro Santo que se dá no altar.

Seja querubim! Seja guardião da adoração onde você estiver. Busque ir além e verás que o paraíso, outrora fechado, agora, em Cristo, foi por nós aberto, e, com nossos irmãos celestes, em comunhão com toda a Igreja, podemos com eles cantar:

“Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, Aquele que era, que é e que há de vir!” (Ap 4,8).

Referências:

1 PSEUDO-DIONISIO, Hierarcha celeste,BIBLIOTHECA PATRISTICA, VII, p. 14-15.
2 Cfr. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica II, Edições Loyola, São Paulo 2005, Q. 108, Art. 5, p.776.
3 Cfr. DICIONÁRIO DE FIGURAS E SÍMBOLOS BÍBLICOS, Paulus 2º edição, São Paulo 2006, p.18-19.
4 Cfr. SÃO JOÃO CRISOSTOMO, De cruce et latrone, hom. I, 1-2. PG 49,399-401.

Originalmente publicado no portal Canção Nova

Imagem: jgroup no Getty Images

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Os anjos serafins: adoradores de fogo https://institutotronos.com.br/2025/03/14/os-anjos-serafins/ https://institutotronos.com.br/2025/03/14/os-anjos-serafins/#respond Fri, 14 Mar 2025 00:38:32 +0000 https://institutotronos.com.br/?p=61 Os anjos serafins: adoradores de fogo]]> anjos serafins

“Um dos Serafins voou para junto de mim, trazendo na mão uma brasa que havia tirado do altar com um tenaz e com ela me tocou os lábios…” (Is 6,1-8).

Os mais próximos de Deus

Primeiros e mais próximos do trono de Deus, o primeiro coro da primeira hierarquia celeste são os serafins. Próximos do fogo devorador da presença de Deus, esses nossos irmãos são abrasados pelo fogo glorioso do Todo-Poderoso.

A palavra serafim vem do hebraico Saraf (שרף) que, por sua vez, significa abrasar, queimar. Veja, já aqui podemos aprender com esses nossos irmãos o seguinte: eles, quando adoram a Deus, são invadidos pelo seu Amor que é tão forte que chega a queimar, fazendo a alma do amante arder diante da presença do amado.

Portanto, esses seres espirituais estão profundamente ligados ao Ágape divino, capaz de aquecer qualquer inverno interior.

Três dimensões da adoração dos serafins

Por serem mais próximos do seu Criador, esses possuem a graça de contemplar a glória de Deus sem vê-la.

É possível contemplar a Deus sem vê-Lo? Sim, é possível; mas vamos por partes. Voltemos ao texto do chamado do profeta Isaías e, depois, debrucemos na Tradição da Igreja para entender melhor quem são esses seres maravilhosos e o que eles têm a nos acrescentar.

Primeiramente, o profeta Isaías nos diz que esses seres espirituais possuem seis asas: com duas cobrem a face; com duas cobrem os pés e com duas voam. Esta visão das asas dos serafins que Isaías teve nos ensina três dimensões da adoração dos serafins: Profundidade, Intimidade e Liberdade.

Profundidade

O gesto de cobrir o rosto está ligado ao fato de que “ninguém pode ver a Deus e continuar vivo” (Ex 33,20). Então, ao adorarem a Deus, os serafins, que estão no alto, cobrem a face e olham para baixo.

Quem está embaixo? O homem, feito do mais baixo dos elementos: o pó da terra.

A beleza desta imagem é que, não vendo a Deus face a Face, os seraph contemplam Deus no reflexo dele, impresso no Homem, que é criado a sua imagem e semelhança. Foi assim que Isaías descobriu que, mesmo sendo um homem de “lábios impuros” (Is 6,5), poderia ser tocado pelo fogo que o serafim contempla.

Intimidade

O segundo elemento da nossa reflexão está no fato dos serafins cobrirem os pés. Os pés, no antigo oriente, estão profundamente ligados à dimensão da intimidade. Ora, não é para qualquer pessoa que você mostra seus pés.

Assim, até hoje no oriente, os pés sempre estarão ligados a dimensão da discrição e do sagrado (Ex 3,5).

Um exemplo disto é: quando Jesus, estando à casa de Lázaro em Bethania, é ungido por Maria. Ela derrama nos pés de Jesus o perfume mais caro e unge-os para a sua paixão (Jo 12,3). Logo em seguida, em um gesto de profunda humildade, o Filho de Deus lava os pés de seus discípulos (Jo 13, 1-11).

Foi tão forte este gesto do mestre que Pedro refutou deixar-se lavar os pés, porque ele, enquanto hebreu, sabia que tal gesto era realizado por alguém muito íntimo (Jo 13,6). Mas era exatamente isso que o Senhor queria do seu amado discípulo: intimidade profunda e não somente uma amizade vivida na superficialidade.

Logo, os serafins nos ensinam, portanto, a dimensão da intimidade na adoração. Eles cobrem seus pés para os outros anjos e para os homens, para somente Deus que “vê no escondido” recompense (Mt 6, 1-6).

Deste modo, aprendemos que a verdadeira adoração exige intimidade que, por sua vez, gera em nós o amor gratuito, tributado a Deus, sem esperar dos outros nenhum reconhecimento. A intimidade doa a exclusividade no relacionamento de um para com o outro.

Sobre esta dimensão, Pseudo-Dionísio nos ensina que os abrasadores não se afastam do trono de Deus e da sua presença e, por isso, a intimidade que eles possuem com Deus dá a eles acesso aos segredos mais íntimos do Todo-Poderoso1.

Liberdade

A terceira dimensão da adoração dos serafins é a liberdade. Com as asas que lhes são superiores, eles voam. Neste sentido, São Boaventura nos ensina que os serafins nos ensinam que, para a verdadeira elevação e contemplação de Deus, ocorre passar pelas três fases:

1. Reconhecer a finitude humana de que somos feitos.
2. Entrar em nós mesmos e reconhecer na intimidade a nossa imagem e semelhança com Deus.
3. Buscar as realidades eternas através da nossa razão e fé2.

A verdadeira adoração nos leva para a verdadeira liberdade, porque, uma vez que reconhecemos do que somos feitos e quem somos, nossa essência se volta Àquele pelo qual somos orientados a contemplar e adorar e, assim, nosso ser é abrasado e nosso coração queima de amor.

Dessa forma, a maior liberdade que alguém pode experimentar em sua vida é quando o Fogo devorador de Deus penetra no mais íntimo do nosso ser. Quem se deixa queimar pelo fogo de Amor de Deus se torna como brasas sobre o altar, que queima e purifica todas as impurezas.

Por isso, São Tomás de Aquino afirmou que os serafins, na grande batalha no céu, não se tornaram demônios. Todos os outros anjos, a exceção desses e dos Tronos, caíram3. Por quê? Por causa do Amor que consome esses nossos irmãos.

Termino:

Aprendemos, portanto, com esses grandes seres celestiais, que o verdadeiro relacionamento com Deus está no fato de deixar-nos ser abrasados por suas chamas de Amor, que aquecem a nossa vida.

Não é por acaso que o Espírito Santo desceu em forma de fogo sobre a cabeça dos apóstolos em Pentecostes, para nos lembrar de que o Amor de Deus derramado em nossos corações é fogo consumidor (Gl 4,6).

Peçamos aos serafins que estão próximos, diante de Deus, que falem de nós para o nosso criador.

Olhe para o céu, feche seus olhos, e com os olhos da fé, veja os serafins com o rosto coberto, mas que, por baixo de suas asas incandescentes, contemplam Deus em você, reflexo e imagem do Deus vivo. Assim os serafins proclamam:

“Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir!”(Ap 7,8)

Assim, eles nos ensinam que Deus é o Deus do meu passado, presente e futuro. Então, deixe Deus ser tudo em sua vida. Ele deseja entrar na tua história, fazer parte da sua vida e reescrevê-la. Desse modo, Ele, que é eterno, nos dias vindouros dirá: “E VIVEU FELIZ PARA SEMPRE QUEIMANDO DE AMOR POR MIM”.

Referências:

1 Cfr. PSEUDO-DIONISIO, Hierarchia celeste, BIBLIOTHECA PATRISTICA, VII, p. 14.
2 Cfr. SÃO BOAVENTURA, Itinerarium mentis in Deum, I, 2.
3 Cfr. SÃO TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologica II, Edições Loyola, São Paulo, 2005, 198, Q. 62, Art. 9.

Originalmente publicado no portal Canção Nova.

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